Cláudio Sancarlos, economista, 49 anos, aproximando-se de uma comerciária que aguarda num ponto de ônibus, ao anoitecer, e explicando em voz baixa: “É xique-xique no pixoxó, e duas coroas-de-frade ao redor”.
Joseph
Goldpepper, 61 anos, industrial, inglês, para Lin Tai Wang, 22 anos, coreana,
no bar do hotel cinco estrelas onde ele está hospedado e ela atende às mesas:
“Me dê uma noite sua, e quem sabe eu lhe darei os anos que me restam”.
Marcílio
Rocha, 32 anos, para Lucileide Barros, 24 anos, de pé num ônibus apertado da
linha 583, Cosme Velho – Leblon: “Posso ficar aqui perto de você? Gostei desse
perfume.”
Casimiro
Carneiro, 58 anos, português dono de bar, para a mulata que se encostou no
balcão, pediu um Campari, bebeu e perguntou quanto devia: “Já pagou, antes
mesmo de pedir.”
Walnério
Santos Silva, 33 anos, violonista, integrante do Clube da Seresta do Grajaú, no
intervalo após a canja do convidado especial: “A próxima música eu peço licença
para dedicar a uma pessoa aqui presente, cujo nome não sei, mas essa pessoa
sabe que é para ela, que tudo que vai ser dito aqui eu estou dizendo para ela.”
Ivo
Cabeleira, 37 anos, campeão de snooker da associação atlética do bairro,
mastigando um palito, na orelha-em-pé de uma balzaca gostosona que passava: “Só
quero casa, comida, roupa lavada, e dinheiro pra cerveja.”
Domício
Lemos Catunda, 48 anos, comerciante, para a senhorita que espera a mala ao seu
lado, junto à esteira de bagagens de um aeroporto: “Podíamos rachar um táxi
até a minha casa, o que acha?”
Dr.
Balbino Araújo, 40 anos, advogado de uma fábrica de brinquedos, segurando um
pequeno pacote com papel-de-embrulho denunciador de origem: “Quem não sabe dar
não merece receber.”
Macedinho,
37 anos, filho de Oxóssi, capoeirista, fã de quadrinhos, frentista de
profissão: “Madame, o que a senhora precisa é de um motorista de absoluta
confiança, um homem que saiba apreciar e seguir instruções bem claras.”
François
Mareillat, 40 anos, professor universitário em Montpellier: “Nunca ninguém me
fez perguntas tão diretas, nunca ninguém me bouleversou dessa maneira, nunca
ninguém inclinou a tal ponto o declive do meu devir.”
Carlitão
das Nega, olindense, 29 anos, mestre-sala de escola local, camiseta jogada
sobre o ombro, óculos escuros espelhados, para a dona do restaurante onde
planeja descolar um prato: “Isso é Generina? Puxa vida! Tás batendo o maior
bolão, visse? Conta esse segredo, criatura.”