Estou coordenando, para a Escola de Cinema Darcy Ribeiro (Rio de Janeiro) uma Mostra do Cinema Fantástico, com filmes todos os sábados às 14 horas, entrada franca. A escola fica na esquina da Rua 1º. de Março com Rua da Alfândega, pertinho do CCBB. (Após a sessão, neste sábado, haverá debate com o prof. Sérgio Almeida.)
Hoje, sábado 23, será exibido O Inquilino (“The Tenant”, 1976) de Roman Polanski. O filme se baseia num livro de Roland Topor, romancista e desenhista de quadrinhos francês. É a história de um migrante polonês em Paris que aluga um apartamento onde algo terrível aconteceu com a inquilina anterior, e ele percebe que o edifício não gosta muito dele. A história lida com o tema da Substituição, em que um protagonista descobre uma pessoa numa situação bizarra, tenta chegar até ela (ou salvá-la, ou investigar a situação, etc.) e no final vê que seu destino é substituir essa pessoa.
É uma história de “casa assombrada” onde não há a presença
de fantasmas humanos, e sim de um clima maligno que desencadeia a tragédia. O
filme tem sido considerado o encerramento de uma “trilogia do apartamento” na
obra de Polanski, três histórias de horror urbano ambientadas em apartamentos
malignos, sendo as duas primeiras Repulsa ao Sexo (“Repulsion”, 1965) e O
Bebê de Rosemary (1968).
Trelkovsky, o inquilino do título, é interpretado pelo
próprio Polanski, com o ar desamparado de um Lionel Messi que não soubesse
jogar futebol. Tentando investigar o suicídio da moradora anterior do
apartamento, ele entra numa espiral de fatos insólitos e bizarros. A violência
aparece em pequenos detalhes de mutilação física, cujo incômodo se torna ainda
maior pela irrelevância do gesto ou pela falta de sentido, a qual gera uma
sensação permanente de que “o Mal não tem um plano”, e que tudo pode acontecer.
Não há uma explicação final, não há um mistério a resolver; o desfecho do filme
desemboca, de modo ameaçador, nas suas sequências iniciais.