Moacy Cirne foi um dos nossos grandes estudiosos das Histórias em Quadrinhos, e ajudou a dar respeitabilidade ao gênero no meio acadêmico. Cinéfilo, foi também o criador, na UFF de Niterói, do primeiro curso acadêmico de ficção científica em nossa universidade. Foi um dos meus vizinhos nordestinos no Flamengo, primeiro, e depois em Laranjeiras. Redigia uma folha-volante “jomardiana”, o Balaio Incomum, que distribuía com os alunos, cheia de poemas, provocações políticas, versos fesceninos do lendário Chico Doido de Caicó. Vou rever A Aventura de Antonioni, seu filme favorito, e pensar para onde vão as pessoas que não vemos mais.
No
Curso Clássico, no turno da noite no Estadual da Prata em 1969, um dos colegas
mais bem-falantes da turma era um “cabôco” moreno, magro, de testa enorme, sorriso
confiante e voz metálica. Anos depois, quando me aproximei dos cantadores que frequentavam
o Bar de Seu Manu, lá estava ele, agora com uma viola do lado. Apolônio Cardoso formou-se em Direito, mas
para mim foi sempre o poeta. Voltamos a nos cruzar na redação do Diário da
Borborema, onde ele tinha uma coluna periódica sobre cultura popular. Faleceu nas vésperas do Natal; eu não o via
há anos. Em alguma caixa de fitas cassete em minha casa, a voz metálica ainda
canta sextilhas.
Quando
eu tinha uns 8 ou 9 anos o mundo parava para a gente ouvir a radionovela As
Aventuras do Flama. Eu e minha irmã Clotilde colecionávamos rótulos do Drops
Dulcora (“quadradinhos, embrulhadinhos um a um”) para entrarmos no clube do
Agente Secreto. O Flama era uma espécie de Batman que combatia tanto gangsters
quanto monstros-robôs, acompanhado por Zito, Eliana, o Raposa, o Comissário
Lawrence, Bolão... Era tudo criação de
Deodato Borges, que também criou uma revista em quadrinhos com as aventuras
dele. Deodato, tal como Péricles Leal (criador do Falcão Negro), foi um
pioneiro paraibano de quadrinhos e de novelas num mundo de pulp fiction. As
últimas imagens que vi dele foram desenhadas por seu filho Mike Deodato, retratista
de heróis.