(manuscrito de George Orwell para 1984)
John
Casey é um romancista com alguns livros premiados, e reuniu num volume (Beyond
the First Draft: The Art of Fiction) reflexões a partir de suas palestras nos
Encontros de Escritores de Sewanee, dos quais ele participa. Que me perdoem os colegas críticos e teóricos
da literatura, mas em termos de discussão do ato da escrita eu prefiro dar atenção
ao que dizem os escritores. É mais perto da experiência real de quem
escreve. Crítico literário é muito bom
para avaliar o que já está publicado.
Pra ajudar a enfrentar a página em branco e o arquivo zero byte, só
escritor.
Casey
diz, logo no começo: “Não posso ensinar uma pessoa a escrever, mas às vezes posso
ensiná-la a reescrever”. Isso me lembrou
outra sugestão que não sei se é de Hemingway ou de Faulkner, mas poderia ser
uma colaboração de ambos: “Escreva bêbado, reescreva sóbrio”. A escrita envolve dois tipos de ação, cada um
suprindo as limitações do outro. Há um
primeiro movimento que é o Despejo, onde o sujeito derrama em cima da página
toda a confusão mental de que fica possuído no momento em que inventa de contar
uma história. É um momento de liberação
do inconsciente, como se diz; um momento em que ele precisa remexer bem no
fundo de um baú de coisas nunca-ditas e dizê-las pela primeira vez.
Depois
vem o segundo momento, em que uma mente mais racional e crítica vai capinar
esse matagal de rascunhos, arrancando o que não se aproveita. É nessa parte que
(segundo Casey) um olhar externo pode ajudar.
O olhar de alguém capaz de perceber o que estava acontecendo na mente do
autor e dizer-lhe: isto está longo, isto está curto, isto é repetição, isto é imitação,
isto está muito verde ainda, isto é clichê.
Sempre (acho eu) pedindo para que o autor mude, mas refreando a vontade
de sugerir a mudança. Quem passa
pente-fino em texto alheio tem o direito de criticar e sugerir mudanças, mas
não de impor frases suas.