O artista Richard Prince produziu uma obra que é um fac-símile perfeito da primeira edição do livro de J. D. Salinger O Apanhador no Campo de Centeio, em todos os detalhes, apenas com o nome de Prince na capa, como autor.
Prince é um “apropriartista”, um praticante
da “arte da apropriação”, uma moda recente (aliás nem tanto) que consiste em
pegar uma obra alheia, fazer-lhe alterações microscópicas ou nem tanto, e
devolvê-la num novo contexto. Prince é
famoso pelas fotos que fez das fotos de propagandas de Marlboro, e já foi alvo
de um processo por apropriação de fotos alheias. (Ele não ganha muita grana com
isso – faz quadros que são vendidos por milhões.)
Goldsmith acha esse livro (Canal Zone Richard Prince YES RASTA: The
Book) uma leitura essencial sobre a “arte de apropriação”: “Na verdade, esta
coleção de documentos constitui o livro definitivo sobre práticas apropriativas
nas artes, pois é repleto de advogados citando em minuciosos detalhes
narrativos exemplos anteriores de roubo e pilhagem, envolvendo todo mundo de
Marcel Duchamp a Jeff Koons”.
Arte
(pra mim) é “poiesis”, o ato de fazer. Dela não resultam só idéias, mas “um
objeto a mais somado ao mundo”. O gesto de Marcel Duchamp mandando um urinol
para a exposição como objeto de arte produziu um circuito conceitual, mas não
uma obra nova. O “Apanhador” de Prince, idem: deflagrou uma ótima discussão,
mas dela nem brotou um livro nem uma obra de artes plásticas.
Li um artigo de Kenneth Goldsmith, outro apropriartista
(falo dele aqui: http://tinyurl.com/mtf7jqg),
onde ele comenta o processo judicial em que Prince se envolveu por ter copiado
fotos de um livro sobre rastafáris.
Greg Allen, (do blog )
publicou um livro com 400 páginas de documentos desse processo, incluindo testemunhos,
declarações juramentadas, sumários da corte.
O que esses artistas fazem não é arte, é crítica de arte,
é uma discussão pública dos conceitos artísticos. Arte conceitual que consiste
em sacadas puramente mentais não é arte (pra mim): é crítica, e não digo isso
para diminuí-la, pelo contrário. A arte
precisa mais de críticas desconcertantes do que de obras de arte que induzem ao
bocejo.
Porém, falar de “arte conceitual”, uma arte apenas de sacadas
inteligentes mas sem a produção de obras materiais, é como falar de "sexo
mental”. Toda obra de arte é, em seu
início, conceitual, mas depois requer criação. Não havendo um “fazer novo”, o
artista ficou no meio do caminho.
É um gesto
crítico, uma discussão interna das mais proveitosas, mas dela não resulta nada
que um público seja capaz de usufruir. O mundo da Arte ficou mais nítido, mas
não ficou maior.