Defendo a teoria de que todo subgênero literário corresponde
a uma necessidade profunda da psique humana. Livros sobre crimes decifrados e
criminosos entregues à polícia confirmam nossos propósitos justiceiros, por
mais superfaturados que sejam. Livros
sobre viagens espaciais exploram nossa curiosidade e nosso senso de
aventura. Livros sobre homens e mulheres
vestidos de couro que fazem sexo usando algemas e outros adereços correspondem
às fixações eróticas de um certo número de homens e mulheres. E la nave va.
Há um subgênero do policial que, se não foi inventado por
Ellery Queen, coube a este transformá-lo numa pequena proeza de
engenhosidade. São as histórias de
mensagens de moribundos. Digamos que
houve um crime numa mansão. A polícia
chama Ellery Queen (que é filho de um inspetor de polícia de Nova York) pra dar
uma olhada. O sujeito foi envenenado ou
apunhalado, mas demorou alguns minutos para morrer, ainda lúcido. Ele queria
dizer quem o matou. Mas se escrevesse
“FULANO ME MATOU”, corria o risco do Fulano voltar à cena do crime e destruir a
mensagem. O que faz ele? Improvisa, em seus últimos estertores, uma
mensagem cifrada cujo sentido o assassino, mesmo que veja, não perceberá de
imediato que o denuncia, e deixará passar, pois está com pressa. A vítima tem a esperança de que a polícia,
com mais tempo e calma para matutar naquilo, descubra a solução, perceba quem
foi a pessoa denunciada em código.
Ellery Queen explorou isso em inúmeros romances e contos.
São letras aleatórias rabiscadas num papel. Uma página específica de um livro,
arrancada no último instante. Um objeto
que a vítima claramente se arrastou para alcançar e segurar, indicando algo. Um
gesto desesperado com os dedos da mão. “O que ele quis dizer com isto, Mr.
Queen?”, é a pergunta, e Ellery começa a fazer todas as associações de idéias
possíveis entre a mensagem misteriosa e as pessoas suspeitas.