Terminei de ler este livro pequeno, leve, escrito com a pena num idioma e a tinta em outro. São memórias e relatos de Gregory Rabassa, que traduziu para o inglês obras como Rayuela de Julio Cortázar, Cem anos de solidão de Garcia Márquez, Brás Cubas de Machado, A Maçã no Escuro de Clarice e Avalovara de Osman Lins, além de outros títulos de peso. A capa cita uma frase de Márquez chamando Rabassa “o melhor escritor latino-americano no idioma inglês”. Harry Ingham, um amigo meu da Califórnia, dizia que tinha vontade de aprender a escrever em espanhol só para ser traduzido ao inglês por Rabassa.
O livro é If This Be Treason – Translation and its Discontents – a Memoir (NY: New
Directions, 2005). Tem uma parte introdutória de umas 50 páginas onde
ele fala de si, relata sua carreira, etc. Na segunda parte, cada capítulo é
sobre um autor que ele traduziu; são 31 capítulos. Rabassa discute detalhes do processo de
tradução, mas, como o livro se dirige ao leitor dos EUA, a maior parte dos
comentários é para dar uma idéia de quem são esses autores nos seus países de
origem. Assim como eu não tinha idéia de
quem fossem Demétrio Aguilera-Malta ou Luís Rafael Sanchez, deve haver quem não
conheça Vinicius de Moraes ou Dalton Trevisan.
Rabassa tem ascendência latina, já que seu pai era cubano, e
o estudo do espanhol (e do português, mais adiante) não foi uma mera estratégia
de escolha de nicho acadêmico. Teve um papel afetivo, era um alargamento de um
universo cultural que já lhe pertencia. Ele acabou traduzindo por necessidade,
e menciona a revista literária Odyssey, da qual participou bem jovem, depois de
formado. A revista (que só produziu seis
números) era de amigos seus, e seu trabalho consistia em ir para as bibliotecas
remexer nas revistas literárias em espanhol e ver o que estava rolando de
interessante. Dessa maneira, disse ele,
a revista publicou textos de numerosos autores desconhecidos àquela altura mas
que depois se tornariam grandes, como Nélida Piñon.