(ilustração: Benedetta Bonichi)
Na sala do Banqueiro ouve-se música clássica o tempo todo,
mas ele não sabe identificar o que está tocando. A música está ali apenas para atrapalhar possíveis microfones de
espionagem embutidos nas paredes. O
Banqueiro já chegou a fazer reuniões secretas num jatinho, dando voltas sobre a
cidade, para ter certeza de estar a salvo de espiões. O Banqueiro não gosta de
olhar o interlocutor nos olhos. Enquanto conversa, caminha o tempo todo. Prefere trabalhar de pé, diante de uma
bancada de madeira, onde escreve, digita no laptop, telefona, despacha com
funcionários.
Sua casa sempre foi repleta de arquivos, pastas, material de
trabalho por toda parte. É vegetariano, e seu prato preferido são legumes
cozidos. Acha um desperdício o hábito de comidas sofisticadas e bebidas caras:
“É muito mais fácil gostar de qualquer coisa.”
Se os outros comensais pedem uma refeição fina, ele se contenta com
salada de tomate com palmito. Sob suas
ordens, mais de 70 pessoas trabalham em quase absoluto silêncio. Sem risadas, sem ninguém elevar a voz. Pedem comida lá mesmo no escritório; todos
têm hora para entrar mas não para sair.
O Banqueiro lembra saudoso ambientes bancários que conheceu na
juventude: “Existia ali uma disciplina rigorosa, era tudo silencioso, quase
monástico.” O Banqueiro já tentou, sem
sucesso, proibir que seus funcionários lhe dirigissem a palavra, mesmo para dar
bom-dia.
O Banqueiro não passeia, não vai à praia, e seu maior luxo
hedonista é comer um peixe grelhado. Seus exercícios físicos são feitos em
casa, numa esteira. Raramente vai ao
cinema. Costuma perguntar a uma amiga,
frequentadora de teatro, por que ela assiste peças, já que “nada do que
acontecia no palco era verdade”. A
última obra de ficção que se lembra de ter lido é o Ensaio sobre a cegueira
de Saramago. Seu apartamento tem numerosos quadros dos maiores pintores
brasileiros, mas ele não lhes dá muita atenção, pois estão ali apenas a título
de investimento. O Banqueiro admite que
não tem muitas idéias de como gastar dinheiro, e diz que o seu objetivo e o seu
prazer não são o dinheiro em si. “É o negócio,” explica.