Cap. 1 – De como Carpente tinha esse nome porque o pai
gostava de um cineasta e a mãe de uma banda.
Cap. 2 – De como ele foi filho único de mulher largada do marido (o qual
subiu ao céu numa carruagem de fogo, ou algo igualmente definitivo, quando
Carpente tinha apenas três anos), encostada na mãe doente, sofrendo com o
atraso no pagamento da pensão, e mesmo assim o pirralho teve uma das infâncias
mais felizes já registradas no Medidor Celestial do bairro do Catete.
Cap. 3 – De como anos depois a vida, essa
eterna caixinha de surpresas, pôs Carpente na escadaria do prédio da Receita,
na Esplanada do Castelo, no momento em que uma moça escorregou no chão da tarde
chuvosa, e foi coreograficamente colhida pelos braços dele, e salva de rolar
escadaria abaixo, e houve um cambaleio, um roçar de superfícies, um
agradecimento balbuciado antes da fuga, antes que ele tivesse tido a chance de
dizer algo como “puxa, você ia se estabacar toda lá embaixo”, ou equivalente;
portanto, melhor assim.
Cap. 4 – De como o mero perfume que ficou nas roupas de
Carpente lhe explicou com eloquência, na longa noite daquela tarde, que era
debalde, pois uma mulher com aquele cheiro não ia querer saber de um cara com
aquela barriga.
Cap. 5 – De como
Carpente jogou-se com tal fúria à bicicleta ergométrica que um mês depois
sobreveio-lhe um piripaque alerta-alfa, houve um fade-out, e os médicos o
beijaram no rosto ao dar-lhe alta um mês depois, diziam que ele tinha ganho a
Mega-Sena da loteria médica, e Carpente, sempre cético, achando aquilo
corporativismo e auto-promoção, pois a saúde estava cem por cento, muito
obrigado.
Cap. 6 – De como mal retornou ao Catete a mãe de Carpente
mandou-o sentar na poltrona e prestar atenção porque o assunto era sério, e na
mente do nosso herói a alegria de estar de volta não a sua casa, mas ao seu
quarto, era indizível, e ele pouco ligou para a revelação, por parte da mãe,
dos remédios que Carpente teria que continuar tomando, das coisas que estava
proibido de fazer, das comidas que não poderia mais nem chegar perto.
Cap. 7 – De como isso pareceu a Carpente pior do que o
hospital, de modo que na primeira chance ele exibiu o certificado de
alistamento numa Força de Paz de civis, coordenada por uma ONG de um amigo que
ele tinha no Largo dos Leões.
Cap. 8 –
De como a mãe predisse-lhe todos os infortúnios e depois rogou-lhe todas as
pragas, mas Carpente, por força desse estratagema, está até hoje circulando
entre o Afeganistão, o Iraque e a Síria, viajando com tudo pago, ganhando uma
nota preta por ter aprendido a ligar uma bomba à ignição de um carro em trinta
segundos.