terça-feira, 30 de setembro de 2014

3617) Campanhas políticas (30.9.2014)




Uma campanha política é uma peça propagandística (e teatral) complexa. Envolve, em sua parte visível, um catatau de impressos, programas de TV, discursos, comícios, debates, entrevistas coletivas, etc.  A parte invisível deve ser (nunca vi) de reuniões a portas fechadas com doadores de campanha, com companheiros de coligação, promessas, acenos de futuras vantagens, contratos a sete chaves onde cada vírgula é barganhada até a exaustão.

Essa parte invisível é, para as pessoas e entidades envolvidas, a verdadeira campanha, o jogo real, uma Copa do Mundo privada que acontece também de quatro em quatro anos.  A parte visível é essa festa diante dos olhos de dezenas de milhões de eleitores. A campanha não é a Copa, é a cerimônia de abertura. A Copa mesmo começa depois da posse. 

Seria injusto dizer que a campanha não tem valor nenhum.  É a conquista dos corações e mentes do eleitorado, e para isso as encenações têm um peso indiscutível.  Mas campanha é jogo-de-cena.  Algo como a dança de acasalamento de algumas espécies animais. É necessária para que o acasalamento ocorra, mas o acasalamento em si são outros quinhentos, que vêm logo depois.

Acasalamentos a portas fechadas, sob sete capas de sigilo. E la nave va. O direito de eleger os funcionários públicos que administrarão o mundo onde eu vivo é da maior importância, mas seria tão bom que bastasse isso.  Que não precisasse ficar cobrando, não precisasse vigiar e punir.  A maioria dos cidadãos, se perguntados, diriam que não querer se envolver com política é legítimo, mas não precisa entrar em choque com quem quer.

Eleições são como trocas de técnico no futebol.  Têm importância?  Claro que têm. Emocionam multidões? Certamente.  Podem trazer mudanças boas, mudanças ruins?  Sem dúvida.  Mas a estrutura fundamental não muda. Um Presidente da República, pra dar só um exemplo, é o técnico a quem cabe organizar o time e botá-lo pra correr.  Está ali para manter a todos fora do buraco, se possível, até pra que a galinha não pare de pôr seus ovos de ouro.  Quem manda no clube, no entanto, não é o técnico. Em muitos casos, não manda nem no time que botou em campo. 

Num clube seleto como a Seleção Brasileira, a gente já viu técnico como figura decorativa, que está ali pra pôr em prática políticas já decididas no vigésimo andar.  Cabe a ele administrar o lucro ou o prejuízo, dar explicações à TV, ser sabatinado, às vezes até ser derrubado com certa rudeza. Já na política, nunca consegui acreditar que quem manda, p. ex., nos EUA é o Presidente Obama. Ele é como o comandante, dando ordens na torre, e recebendo ligações do dono do navio.