Conta-se que no ano de 1647 os habitantes de uma cidade na Itália (Venzone, na província de Udine) tiveram um dia uma surpresa macabra. Escavações no cemitério local revelaram o corpo de um homem que resistira à decomposição, mesmo morto há muitos anos. Era (diz-se) um dos membros da família Scala, a mesma que estava patrocinando aquelas escavações e obras de reforma no cemitério. Deram-lhe o nome de O Corcunda, porque tinha a espinha fortemente curvada. Logo alguém começou a dizer que o defunto era mágico, fazia milagres, etc. Esse culto durou até 1797, quando a invasão das tropas de Napoleão atingiu aquelas bandas. Soldados arrancaram com faca pedaços do corpo e das partes do Corcunda, por terem ouvido dizer que eram afrodisíacas.
A explicação científica é que a rocha calcária, atravessada
por centenas de correntes subterrâneas muito alcalinas, deixa o terreno propício
à conservação dos tecidos, dependendo de outros fatores. Depois disso tudo, os
habitantes começaram a praticar um ritual.
Num dia festivo e de homenagem, o morto é retirado do esquife, vestido
com roupas e enfeites da moda do momento, e é trazido à luz do sol, até a
viúva. Ela o conduz, passeia e conversa com ele, conta-lhe novidades, fala da
saudade que sente; no fim, ele é levado de novo para a cripta. Em dias
festivos, veem-se numerosas famílias passeando ao sol, entrecruzando-se nas
alamedas ao lado dos seus mortos queridos.
As fotos no saite mostram (em preto e branco) uma espécie de
pátio externo, e uma fila dupla de pessoas, o vivo mantendo de pé o morto,
diante de si, às vezes tendo que usar as duas mãos para mantê-lo erguido. O sol
é forte, faz com que os vivos contraiam o rosto, mas eles sorriem para a
câmera, não demonstram estar horrorizados ou incomodados. Os mortos têm a cara
devastada e arenosa de todas as múmias. Numa foto mais próxima, um homem de
meia idade segura um corpo cujo rosto parece dizer “eu sou você amanhã”.