A Storm of Swords é o terceiro volume das “Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin, em que se baseia a série de TV Game of Thrones. A quarta temporada começou este mês, já com episódios de grande violência, puxadas de tapete de deixar de boca aberta o espectador, diálogos cortantes e imagens de alto impacto. Sempre temos que levar em conta, nessas adaptações, a enorme diferença entre a página escrita e a imagem filmada. Uma coisa é você escrever o melhor diálogo do mundo na página: a única coisa de que precisa é um leitor inteligente o bastante para perceber o que o dialogo diz. Outra coisa é ver esse diálogo entregue a atores que no momento de falar aquelas palavras se tornam parceiros de criação, para o bem ou para o mal. A regra básica diz: um mau ator pode estragar o melhor diálogo, um bom ator pode pegar uma frase banal e enriquecê-la de significado. O ator é o ponto final da cadeia criativa, pode valorizar ou destruir tudo que foi feito antes.
Game of Thrones conta com bons atores, e mais do que
performances excepcionais (são todas no nível B+ da TV) tem atores corretamente
escalados para os papéis. Isso valoriza os ótimos roteiros, porque na TV não
existe a preparação gradual de tensões dramáticas, os monólogos interiores, o
acesso aos pensamentos íntimos dos personagens, que dão consistência aos
livros. Martin é um escritor exuberante, não em termos de estilo, mas de imaginação
dramática. Ao contrário da maioria dos romances de fantasia heróica, onde tudo
parece “escrito nas estrelas”, seus livros nos dão a impressão de fazerem
correções de rumo o tempo todo. Com cem páginas de intervalo, muda a balança do
poder, mudam os interesses políticos, mudam as alianças pessoais, muda o
caráter ou a disposição íntima dos personagens. E tudo se encadeia, porque numa
terra onde só há duas leis, a política e a espada, ninguém tem certeza
absolutas, principalmente quando são os personagens com certezas absolutas
(leia-se: princípios morais inabaláveis) que são abatidos como carneiros.