É tanto crime, tanto assalto, tanta violência feia campeando no mundo que as reações das pessoas pipocam por todo canto. Ninguém é tão veemente quanto um cidadão de bem quando vê seus direitos ameaçados. Nas redes sociais, cada um traz sua receita de como lidar com o problema. Um pede mais polícia no seu bairro, para que os ladrões vão todos para bairros mais distantes (e os bairros distantes que se danem, afinal ele não conhece ninguém lá). Outro exige educação gratuita e de boa qualidade para todos, o que é uma das melhores idéias da humanidade em todos os tempos, mas como não tem efeito retroativo deixa sem saída o camarada que está tendo os bolsos revirados sob a mira de um tresoitão. Vem um terceiro e brada: “Vamos pra rua linchar!”, e de fato vai pra rua e lincha, e esta é uma solução tão eficaz que não tarda a surgir um outro grupo para linchar ele próprio, assim como os guilhotinadores franceses morreram todos na guilhotina.
Alguns
dizem: “Que é isso... conversa com o ladrão... às vezes ele está ali por mero
desespero... explica pra ele que aquilo não resolve...”. Ouvi uma história de um cara que foi rendido
por um ladrão: “Passa a grana!” Ele
meteu a mão no bolso, tirou todo o dinheiro que tinha, mas disse: “Vou te dar,
mas isso não vai ser um roubo, eu quero salvar você desse caminho que não leva
a nada, toma o dinheiro, é um presente!”.
O ladrão recebeu, desconcertado, e pra não perder a moral falou: “Tá OK,
mas então me dá também o sapato.”
Não
tem solução mágica, porque mesmo quando a solução serve para um ladrão, não
serve pra outro. Ladrão é gente. Cada ladrão é um indivíduo, com uma história
única e imprevisível, irredutível às estatísticas. A gente pode sair moendo
números até concluir que 17,8% roubam porque fumam crack, 22, 1% porque estão
desempregados, 7,4% porque são psicopatas... Mas na hora de encarar um
indivíduo armado e ansioso, essa tabela serve pra quê?