Critico
às vezes o jargão acadêmico nesta coluna, não por preconceito contra a academia,
mas por impaciência com o jargão. E não
por me julgar acima dele, mas por ter que combatê-lo em cada frase que escrevo,
já que ele não passa de um atalho para dizer coisas complexas.
Dias
atrás, no artigo “Autores meticulosos”, produzi esta pérola, falando de Robert
Silverberg:
“A autoconsciência do autor que recebe o upgrade de uma pulp fiction para uma New Wave paga o preço de uma teorização filosófica para cada frase”.
Upgrade é jargão da informática, significa passar para um estágio
mais avançado de alguma coisa.
Pulp fiction significa (no contexto da frase) um
tipo de ficção escrita “ao correr da pena”, sem muita reflexão a não ser a de saber
para onde a história está indo.
New Wave é um movimento da ficção científica
dos anos 1960, mais consciente das técnicas literárias, dos movimentos de
vanguarda, dos conceitos teóricos.
A frase poderia ser reformulada assim:
“Quando um escritor adquire uma consciência mais apurada da técnica literária, ele evolui de uma ficção aparentemente espontânea, livre, lúdica, para um estágio mais complexo e mais exigente, e o preço que paga por esse aperfeiçoamento é precisar explicar a si mesmo, em cada frase, por que motivo a frase tem que ter aquela forma”.
Bem melhor, não é mesmo?
Rothman
afirma que o jornalista precisa ser simpático, porque está escrevendo para
estranhos; o acadêmico, contudo, escreve para uma comunidade que, em tese,
compartilha suas informações e seu vocabulário. Não precisa explicar seu jargão
a ninguém. E, como se presume que a atitude a ser mantida tem que ser
científica, “a prosa acadêmica é, idealmente, algo impessoal, escrita por uma
mente neutra para outras mentes neutras.”
Uma escrita quase criptografada, para
ser lida por quem domina igualmente a chave desse código. Não é bem o elitismo
dos que se julgam superiores; deve ser a impaciência de quem não pode ficar
reexplicando e redefinindo tudo cada vez que uma pessoa de fora entra na
conversa.