Na série “Livros Meio Antigos Que Sempre Me Interessaram Mas Só Agora Estou Lendo” posso incluir com prazer este relato de Gabriel Garcia Márquez, de 1996, a época em que a violência na Colômbia atingia proporções quase de guerra civil. Márquez, por um lado, tem uma imaginação “Realismo Mágico”, capaz de infinitos desdobramentos e constantes surpresas. Sua formação, no entanto, é jornalística, e quando se detém sobre fatos ele parece ser tão objetivo e atento ao detalhe quanto – digamos – um Fernando Morais ou Ruy Castro, dois dos nossos referenciais de história verdadeira contada com rigor de minúcias.
O livro acompanha o sequestro de uma dezena de
jornalistas colombianos pela quadrilha de Pablo Escobar, o barão da cocaína que
na época tentava pressionar o governo para evitar ser extraditado para os EUA,
onde suas chances de escapar à justiça seriam nulas. Os jornalistas eram de
famílias influentes (havia a filha de um ex-presidente da República), famosos
em todo o país. Ficaram em diferentes cativeiros, vigiados 24 horas por
adolescentes drogados e armados, e a narrativa acompanha tanto os reféns quanto
as famílias que, do lado de fora, pressionam o governo e os sequestradores em
busca de uma solução.
Márquez arma o livro como uma história de
suspense. Para nós, não-colombianos, todos aqueles personagens são
desconhecidos. Lá, já se sabe (é fato histórico) quem morreu e quem foi
resgatado com vida; para um leitor distante, é uma história que está
acontecendo pela primeira vez no instante da leitura. Imaginamos a qualquer
instante um desfecho trágico para qualquer um daqueles personagens. Sabemos que
tudo já aconteceu, mas nossa ignorância do resultado nos ajuda a ler os fatos
como se qualquer final fosse possível.