terça-feira, 7 de janeiro de 2014

3389) "Invasores de Marte" (7.1.2014)



Revi no YouTube este filme de William Cameron Menzies, que é de 1953 mas devo ter visto por volta de 57 ou 58. Um garoto vê de madrugada um disco-voador aterrissando numa colina próxima de sua casa. No dia seguinte o pai dele, que é alegre e carinhoso, vai ver o que aconteceu e volta transformado num homem sombrio, violento e insensível. Logo o garoto percebe um ponto vermelho, como um pequeno rubi, cravado na nuca do pai. Pouco a pouco, as pessoas em volta (a mãe, os vizinhos) passam pela mesma transformação, e segue-se a previsível peregrinação paranóica do garoto por uma cidadezinha indiferente, até achar um casal de cientistas que acreditam nele. No final, eram alienígenas que estavam implantando controles mentais nas pessoas para sabotar uma base de foguetes das vizinhanças, onde o pai do menino trabalhava.

Foi um filme que me marcou na infância. Adquiri o mau hábito de olhar a nuca das pessoas, porque quando o vi eu tinha mais ou menos a idade do garoto. Neste saite (http://bit.ly/1dSh3cj) vi uma boa análise do filme, que é melhor ser lida logo após assisti-lo, senão fica difícil de entender, pois vai muito aos detalhes concretos. O crítico, Glenn Erickson, examina com habilidade o teor de pesadelo do filme, mostrando como tudo ali funciona na mente do garoto (o final deixa meio em dúvida se foi tudo um sonho ou não).

A imagem mais forte do filme, para mim, é a da colina por trás da qual se esconde a nave, acompanhada por uma cerca tortuosa e caligaresca. Diz-se que o filme iria ser feito em 3D, e Menzies concebeu a trilha que sobe a colina num jogo de perspectiva em que o trecho parece ter uns dez metros de extensão mas tem o dobro, de modo que uma pessoa quando a percorre parece levar mais tempo e diminuir de tamanho mais do que seria normal. O uso dos espaços (portas com 3 metros de altura!) e as pessoas que desaparecem afundando na areia (como em outro clássico, The Mole People, 1956) são mais impressionantes do que os efeitos especiais dos “monstros marcianos”, dos quais apenas uma imagem tornou-se famosa, a cabeça com tentáculos verdes dentro de uma espécie de aquário.

É um dos bons filmes da FC paranóica da Guerra Fria, usando com habilidade o clichê do “garoto que é o único a saber a verdade mas ninguém lhe dá ouvidos”. Como era de praxe na época, cabe ao exército americano enfrentar os invasores com tanques e granadas. A parte científica é risível – em 1953, o cinema estava no nível científico das revistas de pulp fiction de 1920, se tanto. Mas o tom kafkeano serviu de modelo para filmes posteriores como Invasion of the Body Snatchers de Don Siegel (1956).