Werner Herzog levou uma miniequipe de filmagem às cavernas de Chauvet, descobertas em 1994 na França, com um dos maiores tesouros de pinturas rupestres do mundo. Bisões volumosos, ameaçadores. Rinocerontes com chifres longos e agudos. Cavalos superpostos em fila, com crinas, olhos, boca, tudo individualizado. Impressões da mão inteira de um indivíduo com um dedo torto. O desenho perturbador da genitália de uma mulher de pernas abertas, que se funde à imagem de um bisão, tudo isto gravado numa saliência fálica da pedra. Cavalos picasseanos pintados há milhares de anos e cobertos de riscos de unhas feitos por ursos, milhares de anos depois. Os “graffiti” mais antigos de Chauvet são de 32 mil anos atrás, e os cientistas veem hoje, lado a lado, imagens feitas por homens com milhares de anos de intervalo entre um e outro, numa parceria de obras de arte superpostas por cima do “abismo do tempo”, como comenta o diretor com sua voz rouca.
Em
Chauvet, a equipe de Herzog fez uma visita inicial de uma hora, e depois de uma
semana com quatro horas diárias. A caverna, que tem 400m de extensão, é fechada
ao público; somente os cientistas têm acesso.
A equipe de filmagem anda pelo mesmo caminho percorrido pelos
arqueólogos: uma passarela de metal alguns centímetros acima do chão, que
avança caverna adentro, e foi construída nos primeiros anos de exploração para
reduzir ao mínimo o contato físico dos raros visitantes com o chão e as
paredes. É proibido tocar em qualquer coisa. A situação lembra o conto de Ray
Bradbury, “Um som de trovão”, em que os viajantes-no-Tempo que voltam ao
passado percorrem uma passarela idêntica, sem tocar em nada para não correr o
risco de, com a morte de um simples inseto, desencadear o chamado “Efeito
Borboleta” e influir no futuro.