Quando Mary Shelley criou em 1818 o seu Frankenstein, estava criando um dos mais versáteis símbolos do mundo futuro. O monstro fabricado em laboratório já serviu de alegoria para tudo. Uma das primeiras que me chamaram a atenção foi a de um crítico que disse: “O monstro de Frankenstein é o adolescente de hoje. Feioso, desajeitado, mal vestido, com um cabelo horrível... Sem saber falar direito, e sem saber o que fazer com o próprio corpo... Querendo achar uma companheira, praticando atos involuntários de violência, porque é grande demais para si mesmo...” E por aí vai.
Talvez o primeiro grande monstro da FC seja uma metáfora
para o último: a Singularidade, o momento em que o homem produzirá uma
Super-Inteligência Artificial capaz de suplantá-lo. Ninguém está tentando criar
isso, na verdade. Mas existem hoje no mundo milhares de pesquisas independentes
que convergem todas nessa direção. A S.I.A. vai surgir pelas mãos de pessoas
que não tinham a intenção de criá-la.
Softwares capazes de se reprogramar, se auto-consertar, se
aperfeiçoar e evoluir. Chips, fibras, hardwares cada vez mais leves, eficazes,
rápidos e baratos. Conexões sem fio ubíquas, velozes, superpostas. Tudo isto são
como os pedaços de uma criatura artificial que estão sendo criados por
pesquisadores independentes, que muitas vezes nem prestam atenção às pesquisas
dos outros, porque estão mergulhados demais na própria.
Se quiséssemos criar a S.I.A. como um projeto civilizatório
coletivo, talvez ela nunca acontecesse, porque cada passo teria que ser examinado
e aprovado por dezenas de comissões internacionais. Não é o que está
acontecendo. Cada pesquisa independente das outras, mas o que acontecerá quando
essas partes, administradas por softwares conscientes, começarem a se coordenar
e a trabalhar em conjunto?