(Jurgen Drescher)
O Viajante que chega à cidade de Völn, num cantão remoto
ao leste do Reno e ao norte do Danúbio, vê-se descendo para um vale muito verde
e fértil. Uma paisagem tranquilizadora só atenuada pela presença, a noroeste,
da escarpada e severa cordilheira de Nusbrau. Chega-se a Völn por uma estrada
que vem do oeste, fazendo curvas pelos montes, ou por uma estrada de ferro que
corta o vale.
A maior atração de Völn é a sua estatuária, moldada numa
argila termo-responsiva abundante no vale, e utilizando técnicas desenvolvidas
há mais de quatro séculos. Na Praça Weinburg, por exemplo, vê-se uma estátua em
homenagem a Marius de Czege, um trovador local. Ao amanhecer, o poeta está
sentado num banquinho, com o alaúde pousado no colo, em atitude meditativa; à
medida que o sol se eleva e a aquece, a estátua vai mudando de cor e adquire um
movimento quase imperceptível: ergue-se, empunha o instrumento, move os dedos
da mãos e move a boca sorrindo, como se cantasse. A queda de temperatura no
por-do-sol faz toda esse processo reproduzir-se de trás para diante.
A Ciência explica o fenômeno com uma analogia simples: um
invólucro de celofane ou plástico transparente, quando é amassado até uma bola,
tende a retornar aos poucos para a forma anterior, como se tivesse memória.
Quando a argila dos vales de Völn é moldada, o artesão cria durante o processo
de moldagem uma sucessão de temperaturas (com fornos e foles), e quando essa
sucessão se reproduz no meio ambiente, ao ar livre, a argila “lembra” a forma
associada a cada momento.
Em cada esquina de Völn há uma estátua em câmara lenta
saudando os passantes, ou entretida com alguma atividade que só a ela diz respeito.
Bonecos de barro enfileirados costumam brincar nos muros e os peitoris. Os
restaurantes usam estátuas para receber os recém-chegados; estátuas de mendigos
simpáticos recebem doações para o Sindicato dos Escultores. (Diz-se que há
estátuas de aves capazes de pequenos voos em “loop”, eternamente indo e
voltando.) Poucas homenageiam figuras
históricas: o uso local é criar tipos e atribuir-lhes um conjunto de ações que
às vezes só é percebido por inteiro por quem se detém a observá-los durante
horas a fio.