terça-feira, 3 de dezembro de 2013

3359) As duas Lolitas (3.12.2013)



O artigo, de Galya Diment, saiu no número de dezembro do New York Magazine, mas o vi na publicação online Vulture (em: http://vult.re/I7E5CF). Vejam só se não deixa a gente com a orelha na frente da pulga.

No final de 1953, a editora da revista The New Yorker, Katharine White, recebeu uma carta de Vera, a esposa de Vladimir Nabokov, avisando que o marido tinha terminado seu romance mais recente e queria mostrar-lhe o texto, para possível publicação de um ou dois capítulos na revista. Uma forma de publicidade muito comum no jornalismo literário, ainda hoje. Mas ela se recusava a mandar o manuscrito pelo correio, porque “algumas coisas tinham que ser explicadas pessoalmente.” 

O livro em questão era Lolita, que Nabokov queria publicar sob pseudônimo, pois sua posição como professor (e russo, ainda por cima) o deixava numa situação frágil para publicar um romance que poderia ser acusado (como acabou sendo) de apologia ao amor pedófilo. 

White não leu o livro. O ano de 1954 foi de idas e vindas do manuscrito a editoras que o elogiavam e recusavam. Ninguém queria se envolver com o que o autor alegava seu “o melhor livro que já tinha escrito em inglês”.

Nesse vai-e-vem o livro foi parar na mão de Edmund Wilson (autor de O Castelo de Axel), amigo de Nabokov, que, contra suas instruções, o deu a ler para vários amigos. Entre eles (é Galya Diment quem supõe) talvez estivesse Dorothy Parker (1893-1967), a poetisa e escritora (Big Loira, etc.) sobre quem já escrevi nesta coluna. 

Por que? Porque em agosto Dorothy publicou em The New Yorker o conto “Lolita”, a história de um homem de trinta anos que se envolve com uma mulher adulta e sua filha adolescente, que tem esse nome. Coincidência? Foi essa a pergunta que Nabokov fez numa carta à editora da revista, a qual, rabugenta, respondeu que se havia plágio talvez fosse dele imitando a história de Dorothy Parker.

A questão só não foi adiante porque no mês seguinte a Lolita de Nabokov saiu por fim, por uma editora parisiense, e a polêmica instantânea que despertou fez Nabokov se concentrar em outra frente de batalha. Mas há de fato indícios de que, através de Edmund Wilson, Dorothy Parker teria lido, em parte ou no todo, o romance de Nabokov e teria pegado uma caronazinha na idéia dele, embora haja muita diferença, claro, entre uma história curta e um livro de 400 páginas. 

Que ela, aliás, resenhou positivamente quando ele saiu nos EUA em 1957, dizendo: “É no plano da escrita que Mr. Nabokov transforma o livro numa obra de arte. Seu domínio da linguagem é absoluto, e seu Lolita é um belo livro, um livro notável... está bem, está bem – um grande livro.”


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