(foto: skynerd.com.br)
A editora Aleph acaba de lançar uma edição especial de 2001, uma Odisséia no Espaço de Arthur C. Clarke. Na capa de Pedro Inoue, há
uma caixa preta tendo no centro o “olho vermelho” do computador Hal-9000, e
dentro da caixa o livro propriamente dito todo impresso em preto, inclusive as
bordas, reproduzindo o famoso monolito do filme. Além disso, o livro traz
textos extras de Arthur C. Clarke, com dois dos contos que serviram de
inspiração inicial para a obra: “A Sentinela” (1952) e “Encontro ao alvorecer”
(1953).
2001 é uma das obras mais conhecidas da FC, graças ao
filme, e imagino que tenha sido o único romance do gênero que muita gente
chegou a ler (ou pelo menos tentou). Na época em que filme e livro foram
lançados, eu tinha de 18 para 19 anos e ouvia o tempo todo comentários como:
“Leia o livro, ele explica o filme todo!”. Explica... em termos. Toda a base
científica do filme é esmiuçada, no brilhante estilo pensei-em-tudo de Clarke.
Superficial na criação de personagens e na psicologia humana, ele é um
espantoso pintor de ambientes e situações de grandeza cósmica e precisão
científica.
Relendo o livro agora, percebi um detalhe. Os cinco
astronautas na missão (embora a ação se concentre em dois) têm nomes que evocam
os homens-macacos primitivos do início da história: Hunter (caçador), Whitehead
(que lembra o homem-macaco “Cabelo Branco” devorado pelo leopardo no capítulo
1), Poole (que lembra “pool”, poça, onde os homens–macacos disputam a água),
“Kaminsky” (uma forma da palavra “pedra” em polonês) e Bowman (arqueiro). Sim,
sei que eles ainda não usam arco e flecha, mas a idéia está embutida na
transformação do personagem Aquele-Que-Vigia-a-Lua.
A certa altura, depois da crise do Hal-9000, Dave Bowman
lembra o que um técnico lhe havia dito, na Terra: “Podemos projetar um sistema
que seja à prova de acidentes e estupidez, mas não podemos projetar um que seja
à prova de maldade deliberada.” Clarke é um dos autores mais racionais e
apolíneos da FC, mas por baixo da euforia racional ele (que não é bobo) reserva
sempre um desvão escuro onde está de emboscada o imprevisto, o irracional, o
inesperado. Como a própria crise de consciência do super-computador, que quase
faz abortar a missão.