Circula pela web (recebi via Twitter do ilustrador Renato
Alarcão) um email assinado pelo músico N. J. White, endereçado a uma tal “Zoe”,
de um canal de TV britânico, que, aparentemente, escreveu para ele pedindo a
liberação, sem pagamento, de alguma música ou trecho de música de autoria dele,
para inclusão em algum tipo de trabalho. Esses detalhes não ficam muito claros,
mas não importa. Importa a resposta do músico e seus argumentos. Faço pequenos
cortes na mensagem original, que é bem mais extensa, mas o essencial vai aí
abaixo.
“Prezada Zoe: (...) Estou de saco cheio desse papo furado,
dessa inevitável frase: ‘Infelizmente não temos verba para a música’, como se
alguma permanente Lei do Universo tivesse proferido um triste e imutável
veredito impedindo você de destinar verba para a música. É a SUA empresa quem
determina as verbas. Foram vocês que decidiram não destinar verba para a
música. Vivo recebendo mensagens desse tipo, toda semana, enviadas por uma
indústria de mídia rica, globalizada.
“Por que é assim? Vamos dar uma olhada em quem somos, eu e
você. Eu sou um músico profissional, vivo da minha música. Levei metade da vida
para aprender minha técnica, e anos para subir na estrutura da profissão até
chegar a um ponto de receber mensagens de estranhos como você. Minha música é
uma propriedade conquistada com muito esforço. Já licenciei música minha para
alguns dos maiores programas, marcas, games e produções de TV, desde Breaking
Bad até Os Sopranos, da Coca-Cola a Visa, da HBO até Rockstar Games. Você teria
coragem de abordar um Diretor com um currículo assim, e, com uma simples frase
cínica, pedir-lhe que trabalhasse de graça?
“É o menosprezo pela música, culturalmente impregnado na SUA
profissão, que leva vocês a desdenhar o quesito ‘música’ sempre que possível.
Vocês pagarão, sem questionar, a qualquer pessoa envolvida numa filmagem,
(...). O músico? Ele que trabalhe de graça. (...) Você trabalha numa empresa
financeiramente próspera, bem sucedida, reconhecida no mundo inteiro, com um
portfólio cheio de sucessos. (...) Vocês têm dinheiro, sim, e fingir o
contrário chega a ser um desaforo. E me manda esse pedido esfarrapado, “dê-me
seu trabalho de graça”. (...) A resposta é um sonoro e definitivo NÃO”.