Um dos
poetas mais fora-de-esquadro da literatura brasileira foi o maranhense
Sousândrade (1832-1902), obscuro apesar de ser uma pessoa de relativo destaque
em vida, tendo sido presidente da intendência municipal em São Luís e candidato
a senador; foi também o criador da bandeira do seu Estado. Além disso, sendo
filho de um fazendeiro rico, teve uma formação cosmopolita, pois estudou em
Paris (na Sorbonne) e depois viveu nos Estados Unidos, de 1871 a 1885.
Durante
muitos anos ninguém encontrou um lugar para ele na poesia brasileira, tendo
sido classificado como Condoreiro, Simbolista, Pré-Modernista. Coube aos irmãos
Augusto e Haroldo de Campos fazer uma redescoberta e revisão de sua obra,
destacando, como sempre faziam, os aspectos que indicavam afinidade com os
princípios do Concretismo. Seus livros mais importantes são O Guesa Errante (1871-77), Harpas Selvagens (1857), O Novo Éden (1893).
Saiu agora
em João Pessoa (Editora Idéia, 2013 – www.ideiaeditora.com.br)
uma edição bilingue de “O Inferno de Wall Street”, um dos mais curiosos
fragmentos de O Guesa Errante, poema que foi publicado aos poucos durante a
vida do autor. O “Inferno” tem uma complicada história bibliográfica. A versão
deste livro, organizado por Carlos Alberto Azevedo, traz as 176 estrofes deste
fragmento, acompanhadas de sua tradução para o alemão, feita por Helga Rieck e
Marli Woll-Tienes.
Não posso
opinar sobre a tradução, sem saber a língua; a única certeza que tenho é que
deve ter sido um trabalho mais difícil do que tanger uma corda de caranguejos.
Os versos do “Inferno” são estrofes pequenas, de linguagem extremamente
concentrada, com palavras em português, inglês, italiano, francês e outras
línguas, repletas de nomes próprios e de referências culturais da época (anos
1870) que as tradutoras referenciam em 294 notas, que infelizmente só vêm em
alemão. (Talvez pelo fato de se terem baseado nas notas dos irmãos Campos em
seu Re/Visão de Sousândrade, Nova Fronteira, 1982, portanto disponíveis em
português).