Fiquei sem saber se me metia na polêmica sobre biografias não-autorizadas. De um lado, querendo manter a lei que as proíbe, estão compositores como Chico Buarque, Roberto Carlos, Caetano, Gil e Djavan. Do outro, defendendo o direito de alguém escrever uma biografia sem pedir ao biografado, estão Ruy Castro, Fernando Morais, Lira Neto e outros autores de biografias famosas. Sinto-me próximo aos dois grupos, mas é mais provável eu escrever um dia a biografia de alguém do que alguém escrever a minha.
Sou contra a proibição prévia de biografias
não-autorizadas. Minha regra é: deixa publicar, e depois avalia. Temos uma
tradição de excelentes biógrafos, e o gênero é levado a sério em nosso país.
Biografias mal-intencionadas ou incompetentes dificilmente emplacam. E trabalhos
sérios como os dos que citei acima e outros, sempre dão um bom retorno de
público e crítica. Sou contra censura prévia. Se uma biografia minha me ofender,
ou disser mentiras ao meu respeito, chamarei meus advogados e cairei
com-água-e-lenha em cima do pirangueiro, que vai arrenegar o dia em que nasceu.
(Cuidado com os caras bonzinhos feito eu. Somos vingativos.)
Tenho, contudo, um esboço de teoria para explicar o
inexplicável, para entender por que cantores e compositores tão inteligentes se
unem para bloquear o trabalho dos biógrafos. É que nossa música popular, ou
melhor nosso “show-business” (a cada década que passa temos mais “show business”
e menos música popular) convive, de maneira um tanto promíscua, não com
biógrafos acadêmicos ou sérios, mas com a indústria de fofocas, difamações e
calúnias que se espalha por canais de TV, revistinhas de fãs e de frivolidades
em torno da mídia, colunas de mexericos mal-intencionados, blogs de fofocas
plantadas por vingança ou despeito...