É uma dessas pegadinhas da Internet. Me lembra a história de
São Tomás de Aquino no mosteiro. Os jovens monges, para zoar com ele, começaram
a gritar, olhando pela janela: “Vinde ver, irmão Tomás! Vinde ver um boi
voando!”. O santo veio à janela e pôs a cabeça para fora, procurando o boi. Os
rapazes riram e disseram: “Acreditastes mesmo que um boi pode voar?” E ele
respondeu: “Achei mais fácil um boi voar do que um religioso mentir.”
A história é provavelmente apócrifa, mas como a li no livro
de leitura do colégio, aí vai ela, para não ficar por perdida. Algumas
pegadinhas manipulam nossa tendência a acreditar em algo que, mesmo impossível,
faz sentido dentro da nossa cultura. Por exemplo: um robô apaixonado. Acreditei
piamente na notícia quando vi isto aqui: http://bit.ly/16BCgE8),
só para vê-la desmentida minutos depois. Kenji é o robô desenvolvido nos
laboratórios da Toshiba, programado para emular (imitar) emoções humanas. Ele
desenvolveu comportamentos afetivos e protetores para com uma boneca, com a
qual passava o dia abraçado. Quando a boneca lhe era retirada, ele perguntava
por ela, insistentemente. O problema principal surgiu quanto Kenji passou a
agir do mesmo jeito com uma estagiária que todo dia atualizava seus softwares.
Querendo reproduzir com ela o que fazia com a boneca, Kenji recusou-se a deixar
a moça sair do cubículo, e foi preciso desligá-lo.
Tudo mentira, claro. A “notícia” já foi desmentida desde
2009 (ver aqui: http://bit.ly/10sf1b5). Por
que motivo eu acreditei, então? Acho que porque a história do robô me lembrou a
história de Bispo do Rosário. Bispo era um doido, o que não é muito diferente
de ser um robô. É um ser a quem se pode atribuir pensamentos e intenções, mas
tem limitações evidentes que para nós são mais visíveis do que as nossas, e é
imprevisível. Bispo apaixonou-se pela psicóloga que tratou dele na Colônia
Juliano Moreira. Tratava-a como se ela fosse Nossa Senhora. No seu mundo
delirante, ela era uma representação de beleza, de pureza, de amor
desinteressado.