Há
um movimento nas redes sociais, lançado por Josélia Aguiar, Álvaro Costa e
Silva (“Marechal”) e André Vallias, e divulgado pela tradutora Denise Bottmann
(do blog “Não gosto de plágio”) para que a Festa Literária de Paraty (Flip) de
2014 homenageie a obra de Lima Barreto. Há outros possíveis homenageados, como
Rubem Braga. Essas homenagens causam sempre um momento de hesitação e remorso,
porque de um modo geral todos os sugeridos merecem, e a gente, mesmo celebrando
o escolhido, fica com pena dos descartados. Em todo caso, Lima Barreto é uma
escolha justa, e mesmo que não se confirme vou aproveitar para conhecer melhor
sua obra, da qual já li vários contos e artigos, mas nenhum romance. (Pois é,
galera, não tenho problema em revelar o que não sei. O pouco que sei já me
garante.)
Lima
Barreto (1881-1922) teve que batalhar contra muitos preconceitos. Primeiro, o
da cor, que o fez compartilhar o destino de Cruz e Sousa, Machado de Assis (em
parte) e outros autores negros ou mestiços de cem anos atrás, num Brasil branco
que cerrava fileiras em torno de sua brancura como um time que está ganhando o
jogo de 1x0 mas sente no adversário cada vez mais volume de jogo.
Outro
preconceito foi devido à bebida e à loucura, um karma permanente do destino
literário. Já frequentei o prédio da UFRJ na Praia Vermelha, no Rio, inclusive
para fazer palestras, e sempre alguém comenta que foi ali que Lima Barreto
ficou durante suas internações psiquiátricas. Algo parecido me ocorreu quando
visitei há 30 anos o antigo presídio da Ilha Grande, e lembrei de Graciliano
Ramos e suas memórias do cárcere. Alguns dos grandes escritores brasileiros do
futuro talvez sejam pessoas de que nem eu nem vocês jamais ouvimos falar, pessoas
que talvez estejam hoje numa cadeia, ou numa clínica de desintoxicação. Quem
pode garantir?