A série Game of Thrones pôs no ar recentemente o episódio
“The Rains of Castamere”, que produziu um choque considerável no público. Sem
revelar muitos detalhes, posso dizer que o episódio mostrou a morte violenta,
em circunstâncias especialmente cruéis, de personagens muito queridos pelo
público. Perdi a conta dos twitters e dos posts que vi, de pessoas reclamando
em altas vozes (e muita gente chorando, com sinceridade) a morte dos
personagens. E uma queixa se repetia,
em cada voz, em cada nome: “Odeio você, George R. R. Martin... Nunca mais quero
assistir essa série de novo...”
E no entanto tenho certeza de que quase todos voltarão a
assistir essa série que já matou outros personagens queridos e que a esta
altura já deixou claro, mesmo para o mais obtuso dos espectadores, que vai matar
muitos mais. Porque uma coisa de que mesmo o espetáculo popularesco não pode
abrir mão é a tragédia. Por que motivo as platéias de Shakespeare gostavam
tanto daquelas histórias onde nada dava certo, onde pessoas boas morriam mortes
cruéis, onde namorados simpáticos por quem todo mundo torcia acabavam se
matando por causa de um mal entendido?
Por que aquelas platéias rudes e ignorantes de meio milênio atrás
voltavam para casa satisfeitas, após uma catarse tão deprê? Que tipo de diversão é esse?
Disse o autor de A Song of Ice and Fire (o ciclo dos
romances em que se baseia Game of Thrones): “As pessoas lêem livros por
motivos diferentes. Alguns lêem para o seu conforto. E alguns dos meus
ex-leitores disseram que sua vida é dura, a mãe está doente, o cachorro morreu,
e eles lêem ficção para fugir. Não querem ser atingidos na boca por algo
horrível. Quando se lê um certo tipo de ficção, onde o cara vai sempre ficar
com a garota e os mocinhos vencem no fim, isso reafirma a você que a vida é
justa. (...) Mas isso não é o tipo de ficção que eu escrevo, na maioria dos
casos. Certamente não é o que ‘Ice and Fire’ é, que tenta ser mais realista
sobre o que é a vida. Ele tem alegria, mas também tem dor e medo. Acho que a
melhor ficção captura a vida em todas as suas luzes e trevas”.