Há muitas maneiras de classificar os gêneros literários, e
de acordo com o sistema de classificação, a mesma obra pode pertencer a gêneros
diferentes. (É como na Física Quântica – mudou o parâmetro de observação, muda
o resultado, ainda que o fenômeno seja o mesmo.)
Vejam Star Wars. É ficção científica,
se julgarmos pela presença de espaçonaves, robôs, voos interplanetários. Mas de
ciência, mesmo, tem pouquíssima coisa ali. Asimov brincava (afetuosamente) com
a série dizendo que ela era a respeito das batalhas de aviões da I Guerra
Mundial.
Se começarmos a ler romances à procura de obras que
empreguem o método científico (observação, dedução, indução, experimentação,
uso do raciocínio lógico) talvez cheguemos à conclusão surpreendente de que o
romance policial (o de mistério detetivesco) costuma ser muito mais científico
do que a maioria da ficção científica.
Esta se baseia largamente em outras
coisas: aventura, imaginação fantástica, plots reciclados da mitologia e das
lendas clássicas. Ciência, mesmo? Só na obra de radicais como Greg Bear, Greg
Egan ou Gregory Benford (não sei o que têm os Gregs para serem tão
cartesianos).
Nos romances de detetives o que vemos é uma aplicação
constante, minuciosa e inflexível da lógica científica.
Indícios são recolhidos
e examinados. Detalhes fora do comum são observados e registrados. Hipóteses
são formuladas, e, quando é o caso, testadas. Cada hipótese deve ter uma
resposta satisfatória para explicar cada indício recolhido (se a vítima foi
estrangulada mas há uma mancha de sangue no teto, tem que haver uma explicação
para ela).
O detetive examina indícios em
torno de um fato anormal e os compara com a normalidade, para tentar entender o
que aconteceu. É tão científico quanto um médico avaliando um paciente novo ou
um mecânico de oficina abrindo o capô de um carro que acabou de chegar via
reboque. O pensamento que põem em prática é o pensamento científico, com todas
as suas vantagens e suas limitações.
Se procurarmos esse pensamento fora da FC
hard, será difícil encontrá-lo, principalmente no cinema. O que existe ali é o
bom e velho pensamento mágico revestido de aparato pseudo-tecnológico, pois a
maioria daquelas máquinas não funcionaria no mundo real.