Anos
atrás li uma entrevista com o funcionário de uma distribuidora de filmes, tipo
Columbia ou Franco-Brasileira, argumentando sobre as escolhas de títulos
brasileiros para os filmes que vêm de fora. Todo mundo se queixa da nossa
infidelidade aos títulos nacionais, sempre achando que além da infidelidade há
uma perda de qualidade. O tal funcionário defendia-se da melhor forma possível.
Dizia ele que, título por título, ninguém sairia de casa para ver um filme
chamado A linha fina, mas veria com interesse Uma vida em suspense (é o
filme em que Anne
Bancroft toma comprimidos para se matar e Sidney Poitier, no
serviço de suporte psicológico, a mantém acordada ao telefone, enquanto a
ambulância chega. A linha fina, The Slender Thread, é o fio do telefone). O
objetivo do título não é descrever ou sintetizar o filme, é atrair o
espectador.
E
o título tem uma poesia própria. Tiro meu chapéu para quem inventou, para
filmes estrangeiros, expressões em português que se incorporaram a nossa
linguagem, como Assim Caminha a Humanidade (Giant), Um Corpo que Cai (Vertigo), O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch), Suplício de uma
Saudade (Love is a Many Splendored Thing), Os Brutos Também Amam (Shane),
etc. Alguns títulos parecem meio ridículos até fazerem sucesso, como A Noviça
Rebelde, e o fato é que um musical chamado O Som da Música não pareceria
algo muito promissor. O mesmo vale para outro filme de Robert Wise, Amor
Sublime Amor, porque História do Lado Oeste pareceria um documentário do canal
NatGeo. Já o recorde de fidelidade, claro, é Down By Law de Jim Jarmusch, que
em português virou Daunbailó.