Diretores de filmes B interessados em fazer filmes
pós-apocalípticos não precisam gastar um só dólar mandando construir cenários
de papelão. O mundo está cheio de fábricas abandonadas, conjuntos residenciais
virgens de inquilinos e já tomados pelo matagal, cidades fantasmas, hotéis de
luxo hoje habitados somente por calangos e cascavéis.
São muitas as causas. A
grana-que-ergue-e-destrói-coisas-belas não para de conceber projetos novos,
iniciá-los, e deixá-los pela metade. Reviravoltas econômicas levam uma região à
falência e à desabitação, esvaziando cidades inteiras. A guerra, as epidemias,
acidentes radioativos ou catástrofes naturais despovoam áreas enormes e deixam
expostos à chuva e ao vento edifícios que já foram monumentais, deslumbrantes,
repletos de pessoas.
The Atlantic (http://bit.ly/yyR5oJ) reúne fotos assim na página “A World without
People”.
Estátuas de Confúcio e de Lênin estão
abandonadas no meio das ruínas. Em Fukushima, onde houve o acidente nuclear do
Japão, a hera das casas invade pacificamente o asfalto onde não passa mais
ninguém. Perto de Chernobyl, um parque de diversões abandonado onde as árvores
estão prestes a cobrir a roda-gigante.
Gansos e dinossauros de fibra de vidro
parecem imagens surrealistas jogados no lixo de um parque temático em Berlim.
Instalações construídas em Atenas para as Olimpíadas de 2004 estão sendo
corroídas pela ferrugem e pela umidade, sem uso. Perto do aeroporto da Líbia, a
estranha imagem de uma escada de avião abandonada no meio da rodovia.
Assim como em nosso corpo as células nascem, morrem e se
substituem sem parar, o mundo avança às custas de uma destruição e criação
constante. Marx falou certa vez que “a podridão é o laboratório da vida”,
provavelmente querendo dizer que nas crises econômicas e sociais nem tudo se
perde. Riquezas, forças, energias, tudo é canalizado para outras funções, e a
roda vai rodando.
O “mundo sem gente” do The Atlantic lembra aquela série do
History Channel, “O Mundo Sem Ninguém”, que num exercício bem próximo da ficção
científica visualiza em computação gráfica como ficariam nossas cidades dez
anos depois do nosso desaparecimento; cem anos; mil anos.