quinta-feira, 25 de abril de 2013

3169) "Repossession Man" (25.4.2013)





Nos anos 1950, os rebeldes sem causa dos EUA e os “angry young men” da Grã-Bretanha batiam de frente com pais caretas, moral e politicamente conservadores. O filme Repo Man de Alex Cox (1984) é de uma geração depois disto, e tem um perfil interessante. É um desses filmes rebeldes e roqueiros que a toda hora escapam por entre as frestas da indústria.  Em parte mostra o que significa ser punk: a briga surda e não-violenta entre o rapaz Emilio Estevez e seus pais é uma briga perfeitamente normal. Ou seria, se os pais não estivessem fumando baseados e não tivessem investido todas as suas economias num pastor evangélico.

O personagem Otto começa a trabalhar como “Repo(ssession) Man”, o cara a quem cabe tomar de volta os automóveis que foram comprados e não foram pagos. O filme, mais do que ser uma análise do meio social e cultural dos “repo men”, parece um filme financiado e co-roteirizado por repomen do mundo real. Tem a trilha sonora de alta octanagem e mistura de cenas de brigas, de perseguição, cenas que o diretor traz prontas na cabeça e depois dá um jeito de encaixar na história.

Meu personagem favorito é um maluco que vive elaborando teorias da conspiração e imagina que os discos voadores são máquinas do tempo, e que as pessoas desaparecidas nas grandes cidades foram na verdade enviadas para o Passado. Para quê? Não se sabe, porque tudo é muito mais complexo e cheio de surpresas do que a gente imagina. Nas franjas da cultura roqueira paira sempre esse universo cinza e pegajoso das fantasias cósmicas ou de espionagem megacorporativa, a noção (que a paranóia das drogas certamente deixa mais vívida) de que o mundo é manipulado por forças malignas que desconhecemos.

O filme tem uma cena em que um cara entra num carro e faz ligação direta dos fios da ignição. Isso durou uns trinta segundos, mostrando todas as tentativas de fazer o motor pegar, e foi uma eternidade, porque em filme americano o normal é um corte rápido e o carro já vai de estrada afora, satisfeitão. O plano insuportável deste filme amadorístico me abriu os olhos para a possível cronometragem de um roubo-de-carro real.

Há uma subtrama alienígena sobre alguma coisa radioativamente mortal na mala de um carro, o que acaba se tornando um “deus ex machina”, um raio mortal lançado por Zeus. Quando é preciso matar um personagem, basta fazê-lo abrir a mala desse carro. É um momento Arquivo X na história, mas feito num clima meio de humor, meio de filme-B-de-alien, que é o que Repo Man acaba sendo mesmo. Filme sem compromisso com bilheteria, a não ser o propósito de se pagar e poder fazer outro. Como aliás deveriam ser todos os filmes.