Algumas correntes da psicologia dizem que um dos traços distintivos do ser humano é o que se chama de “compaixão” ou “empatia” (que filologicamente são quase a mesma coisa): a capacidade de se colocar no lugar do outro, de sentir (ou de imaginar que está sentindo) o que o outro sente.
Mario
Quintana tem um pequeno poema que é a concentração da empatia numa pílula
irretocável. Eis o poema (que, aliás, deu título a um livro de Caio Fernando
Abreu), intitulado “Trecho de Diário”:
Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá.
Numa determinada pedra em certa rua de Calcutá.
Solta. Sozinha. Quem repara nela?
Só eu, que nunca fui lá.
Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento...
Minha pedra de Calcutá!.
Essa capacidade de se comover com o minúsculo, o insignificante (e, no caso, um minúsculo e insignificante admitidamente fantasioso) exprime a empatia instintiva de certas pessoas.
Me lembra o conto “O abacaxi de ferro” de Eden Philpotts (que incluí na antologia Contos Fantásticos no Labirinto de Borges), em que um cara se apaixona (sim, a palavra é esta) por um dos abacaxis de ferro que ele avista no gradil decorativo de uma casa, na cidade em que mora.
Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá.
Numa determinada pedra em certa rua de Calcutá.
Solta. Sozinha. Quem repara nela?
Só eu, que nunca fui lá.
Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento...
Minha pedra de Calcutá!.
Essa capacidade de se comover com o minúsculo, o insignificante (e, no caso, um minúsculo e insignificante admitidamente fantasioso) exprime a empatia instintiva de certas pessoas.
Me lembra o conto “O abacaxi de ferro” de Eden Philpotts (que incluí na antologia Contos Fantásticos no Labirinto de Borges), em que um cara se apaixona (sim, a palavra é esta) por um dos abacaxis de ferro que ele avista no gradil decorativo de uma casa, na cidade em que mora.
O
contrário desse amor capaz de “amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um
chão de ferro” (Drummond) é a indiferença pela sorte alheia, a frieza diante do
semelhante.
É o que caracteriza os sociopatas, que pensam somente em si mesmos e para quem os demais não passam de figuras ornamentais, sem vida.
Quem explorou literariamente esse dilema foi Eça de Queiroz em O Mandarim (1880). O Diabo faz ao protagonista, Teodoro, essa proposta:
“No fundo da China existe um Mandarim mais rico que todos os reis de que a Fábula ou a História contam. Dele nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro. Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia. Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição dum avaro. Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?”.
É o que caracteriza os sociopatas, que pensam somente em si mesmos e para quem os demais não passam de figuras ornamentais, sem vida.
Quem explorou literariamente esse dilema foi Eça de Queiroz em O Mandarim (1880). O Diabo faz ao protagonista, Teodoro, essa proposta:
“No fundo da China existe um Mandarim mais rico que todos os reis de que a Fábula ou a História contam. Dele nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro. Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia. Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição dum avaro. Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?”.
Quintana imagina, sem que ninguém lhe peça, uma pedrinha numa rua do Oriente, comove-se com ela, chama-a “sua”.
Teodoro toca a campainha, fulmina o mandarim e herda-lhe as riquezas.
São exemplos da empatia e da indiferença para com os outros. As duas atitudes que Philip K. Dick descrevia como a afetividade da “moça de cabelos negros” e a frieza assassina de um inseto.