Talvez seja essa facilidade, que já existia na era
pré-Internet, que inspirou Roberto Bolaño a criar um dos personagem mais
divertidos de seu livro A Literatura Nazista nas Américas (1996). O livro é
um conjunto de biografias de 30 literatos, simpatizantes do fascismo, do
nazismo, de ideologias de extrema direita. Todos são imaginários, mas é difícil
ler essas sinopses (cada uma vai de duas a dez páginas) sem pensar: “Conheci um
Fulano que era exatamente assim”.
A certa altura Bolaño nos apresenta o haitiano Max Mirebalais,
plagiador compulsivo. De origem humilde, ele começou a trabalhar num jornal
local e, como assistente de colunista social, teve acesso um dia às festas nas
mansões dos ricos. Diz Bolaño: “Assim que ele descobriu aquele mundo, quis
pertencer a ele”. Decidiu fazê-lo através do ‘status’ de poeta, e começou
plagiando Aimé Césaire. Ninguém percebeu, e ele passou a plagiar (e publicar)
poemas de René Depestre. Todo mundo adorou, e ele atacou a obra de Anthony
Phelps, Jean Dieudonné Garçon e muito outros.
A irresistível ascensão social de Max Mirebalais é tão
fulminante (porque, ao que parece, ninguém lê poesia haitiana no Haiti, a menos
que seja amigo do poeta) que ele vai morar na Europa, e precisa criar
heterônimos. Diz Bolaño: “Foi assim que nasceu Max Le Gueule: a chave de ouro
da arte do plagiador, uma salada dos poetas de Quebec, Tunísia, Argélia,
Marrocos, Líbano, Camarões, Congo, República Centro-africana e Nigéria”.