quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

3091) A tragédia americana (24.1.2013)





Os EUA parecem estar escorregando para um dos períodos mais sombrios da sua História.  Até eu, que não tenho nada a ver com isso, perco o sono às vezes por causa deles. Agora, o país atingiu mais uma vez seu limite máximo de endividamento. Esse teto agora é de 16 trilhões de dólares; vão faltar zeros no mundo no dia em que essa dívida for cobrada. Barack Obama vive fazendo um vale-tudo junto ao Congresso, pedindo permissão para se endividar ainda mais. (É o mesmíssimo caso que já encarei tantas vezes: nossa turma bebia a noite inteira, e quando chegava a conta o dinheiro não dava pra pagar. O que a gente fazia? Pedia mais cerveja enquanto procurava uma solução.)

Militarmente o país está mais encrencado do que nunca, e o fato de ter saído do Iraque é um pálido consolo diante do gigantesco fracasso militar e político desse pesadelo auto-induzido. Nas tropas norteamericanas acontece um suicídio por dia; mais soldados morreram pela própria mão do que mortos pelo inimigo. Quem é o Inimigo, então? A tragédia recorrente da América é invadir um país primitivo alegando democratizá-lo a poder de fogo, sofrer uma derrota ridícula e sair do país deixando a situação pior do que estava quando entrou.

Além disso, periga se tornar um dos lugares mais paranóicos e reacionários do mundo.  O fundamentalismo religioso deles é diferente dos nossos evangélicos do Brasil, que só querem mesmo pegar o dinheiro dos bestas. Os de lá acreditam mesmo no que dizem. Pobre América de Walt Whitman, o poeta da fraternidade, da igualdade entre irmãos, da aventura de construir um grande sonho coletivo de uma civilização simples, voltada para o trabalho manual e o cultivo do espírito. É essa América (o sonho talvez impossível dessa América, dessa nova chance de utopia para um mundo cansado de impérios armados) que seduziu jovens do mundo inteiro, quando surgiu no século 20 como uma alternativa real para a Europa com seus colonialismos e totalitarismos, seu sistema rígido de classes e clãs, sua decadência.

Os EUA são a viga-mestra do mundo como o conhecemos, e está num declínio talvez irrecuperável (dizem os próprios norte-americanos). Lá dentro ainda resistem bolsões da Ilha da Fantasia, uma espécie de condomínio de luxo cercado por arame farpado, pitbulls e seguranças com metralhadoras. Um bunker suburbano a céu aberto, um céu que antes do 11 de setembro nunca trouxe más notícias. Vamos rezar pela América. No dia em que a viga-mestra partir e ela afundar, vai criar um redemoinho tão grande que nos puxará a todos consigo para dentro do ralo. Talvez só não desça a China, que é tão grande que vai ficar entalada nas bordas.