Os EUA parecem estar escorregando para um dos períodos mais
sombrios da sua História. Até eu, que
não tenho nada a ver com isso, perco o sono às vezes por causa deles. Agora, o
país atingiu mais uma vez seu limite máximo de endividamento. Esse teto agora é
de 16 trilhões de dólares; vão faltar zeros no mundo no dia em que essa dívida
for cobrada. Barack Obama vive fazendo um vale-tudo junto ao Congresso, pedindo
permissão para se endividar ainda mais. (É o mesmíssimo caso que já encarei
tantas vezes: nossa turma bebia a noite inteira, e quando chegava a conta o
dinheiro não dava pra pagar. O que a gente fazia? Pedia mais cerveja enquanto
procurava uma solução.)
Militarmente o país está mais encrencado do que nunca, e o fato
de ter saído do Iraque é um pálido consolo diante do gigantesco fracasso
militar e político desse pesadelo auto-induzido. Nas tropas norteamericanas
acontece um suicídio por dia; mais soldados morreram pela própria mão do que
mortos pelo inimigo. Quem é o Inimigo, então? A tragédia recorrente da América
é invadir um país primitivo alegando democratizá-lo a poder de fogo, sofrer uma
derrota ridícula e sair do país deixando a situação pior do que estava quando
entrou.
Além disso, periga se tornar um dos lugares mais paranóicos
e reacionários do mundo. O
fundamentalismo religioso deles é diferente dos nossos evangélicos do Brasil,
que só querem mesmo pegar o dinheiro dos bestas. Os de lá acreditam mesmo no
que dizem. Pobre América de Walt Whitman, o poeta da fraternidade, da igualdade
entre irmãos, da aventura de construir um grande sonho coletivo de uma
civilização simples, voltada para o trabalho manual e o cultivo do espírito. É
essa América (o sonho talvez impossível dessa América, dessa nova chance de
utopia para um mundo cansado de impérios armados) que seduziu jovens do mundo
inteiro, quando surgiu no século 20 como uma alternativa real para a Europa com
seus colonialismos e totalitarismos, seu sistema rígido de classes e clãs, sua
decadência.