domingo, 29 de setembro de 2013

3304) Ozymandias (29.9.2013)




A reta final do seriado Breaking Bad (cujo último episódio será exibido hoje à noite) foi uma porrada atrás da outra. Estes últimos capítulos têm trazido um bombardeio. Mortes cruéis de gente inocente. Atos de coragem espantosa e de covardia repugnante. Momentos dolorosos de revolta de quem percebeu ter sido enganado a vida inteira por alguém em quem confiava...

A série (para quem não sabe) conta a transformação do tímido professor de química Walter White num fabricante e traficante de metanfetamina, passando por cima de tudo e de todos, praticando assassinatos, tortura, chacinas, o escambau. Ao saber que tem câncer, ele decide enriquecer para garantir o futuro da família. Numa narrativa quase do tipo “o médico e o monstro” (com grande atuação de Bryan Cranston no papel), ele tem momentos em que é o marido leal e o pai carinhoso que foi em outros tempos, e segundos depois se transforma no cruel e implacável “Heisenberg”, o pseudônimo que adotou no mundo do crime.

Esse nome remete ao princípio célebre da Física, o “Princípio da Incerteza” formulado por Werner Heisenberg. Pode ter sido adotado por mero despiste (Walter pode ter pensado em usar como pseudônimo o nome de um químico, pode ter achado que era bandeiroso demais, e em vez disso escolheu um físico que todo mundo conhece). Mas pode ter um significado simbólico. O Princípio de Heisenberg diz que não podemos calcular ao mesmo tempo a posição e a velocidade de uma partícula sub-atômica. Ora, se determinamos sua posição, não podemos saber com que velocidade estava se movendo: é como a foto de um carro ou de um avião. Se calculamos sua velocidade, isso implica em considerar seu movimento ao longo de um certo trecho de espaço, e assim não podemos apontar uma única posição, pois há uma sucessão delas.

A certa altura, Heisenberg diz: “ Meu negócio não é a droga, nem o dinheiro. Meu negócio é o império”. Outros nome famoso associado à série é “Ozymandias”, título do antepenúltimo episódio. Ele se refere ao poema de Percy B. Shelley sobre a estátua de um rei antigo, tombada no chão do deserto. É no deserto de Albuquerque, Novo México (onde transcorre a ação) que Walter começa a fabricação de sua droga (num furgão), é lá que enterra seu dinheiro, que despacha seus inimigos. Ali, duas elevações rochosas se erguem como os pés da estátua do rei descrito por Shelley. De todo o poder, resta somente o pó. De todo o ouro e de todos os santuários, resta somente o chão. Da família, em nome de quem tudo aquilo aconteceu, e que Walter White afirma proteger acima de tudo, ninguém sabe o que restará quando o último tiro for disparado.


2 comentários:

Flávio disse...

Será que eu me inspirei no apresentador de tv Flávio Cavalcanti? ou no cantor Flávio Venturini? ou ainda no historiador judeu Flávio Josefo?

Wojciech Roszkowski disse...

Bardzo fajnie napisane. Pozdrawiam serdecznie !