Este filme de Arthur Penn, de 1966, nunca foi prestado
atenção pela crítica. (Eis um exemplo de linguagem informal que os gramáticos
abominam.) Teve a má sorte de vir entre uma obra-prima alegórica demais
(Mickey One) e um sucesso arrasador (Bonnie e Clyde), de modo que todo
mundo o esqueceu. Ele manipula algumas situações clássicas, sendo a mais
visível delas O Xerife Indefeso – aquelas situações em que todo mundo numa
cidade está cúmplice de uma barbaridade qualquer, e a única voz da razão, mesmo
sendo voto vencido, é o xerife local No
presente caso, Marlon Brando, fazendo seu habitual personagem ético e durão,
num casamento solidário, sólido, com a bela Angie Dickinson.
Um rapaz dessa cidadezinha texana fugiu da cadeia e parece
estar voltando à cidade, acusado de assassinato. Os cidadãos respeitáveis
locais (uns sujeitos bêbados e armados) decidem abatê-lo, para se divertir.
Durante um dia e uma noite, a cidade ferve com essa perseguição e emboscada
(porque a própria vítima vem ao encontro dos que querem pegá-lo). A esposa e o
maior amigo dele tentam salvá-lo. O presidiário é Robert Redford, a esposa é
Jane Fonda, o amigo é James Fox. O pai do rapaz, o milionário local, é o ator
E. G. Marshall, fazendo aqui um texano com uma inquietante semelhança com
George W. Bush. Há numerosos atores coadjuvantes que arrasam, como o casal do
marido babaca Robert Duvall e a esposa periguete Janice Rule.
Arthur Penn é por algum motivo um diretor pouco lembrado dos
anos 1960, e um dos melhores. Revi agora Caçada Humana, em DVD, numa versão
de 2:13 horas, maior do que a que vi originalmente. Não tem o ritmo de
metralhadora frenético dos filmes de hoje, mas tem uma narrativa bem amarrada
pelo roteiro de Lillian Hellman, a namorada de Dashiell Hammett (eita, que as
feministas vão espernear). A violência interiorana (hoje tão visível em David
Lynch, nos Irmãos Coen) é descrita de forma exemplar. Os principais vilões são
sujeitos cujo nome a gente não lembra mais, assim que o filme acaba.