(Isadora Faber)
Houve um bafafá danado, de julho pra cá, por causa da página
“Diário de Classe”, inventada por Isadora Faber, uma menina de 13 anos. Ela criou a página do Facebook
para reclamar dos problemas e dos defeitos da escola municipal onde estuda, em
Santa Catarina. Pra quê que ela fez isso?!
Choveram reclamações, críticas, ameaças. A avó da menina foi atingida
por uma pedra; ela própria foi intimada a prestar depoimento em uma delegacia,
porque uma professora a acusou de calúnia e difamação.
A verdade é que ninguém gosta de ver divulgados os seus
malfeitos, sejam ações desonestas ou simples negligências. No caso da escola da
menina, não acho que os problemas sejam muito diferentes do que se vê na
maioria das escolas, públicas ou particulares: orelhões quebrados, fios
elétricos desencapados, falta de professores... Cada escola tem problemas
diferentes, que no fundo são um só: falta de dinheiro ou má aplicação (por
incompetência, descaso ou desonestidade) do dinheiro disponível. Quem quiser conferir, procure no Facebook a
página “Diário de Classe”.
Como tanta coisa na Internet, o página se multiplicou (diria
um redator das antigas) “como fogo num rastilho de pólvora”. “O Globo” de
domingo diz que já existem mais de cem páginas diferentes, criadas por outros
estudantes, nos mesmos moldes. Isto é bom? É ruim? Como sempre acontece quando
se bota uma tecnologia na mão de uma multidão, pode servir pra tudo. Estudantes
moleques podem querer “trollar” a própria escola postando fotos tiradas em
outros lugares e dizendo que foi lá. Alunos relapsos podem agredir a imagem de
professores exigentes, por vingança. Alunos podem se sacanear uns aos outros
postando fotos ou informações comprometedoras.
Ou seja: os riscos são os mesmos de quando foram inventadas
as inscrições cuneiformes ou os hieróglifos egípcios. Qualquer nova maneira de
multiplicar uma informação pode ser usada para o bem e para o mal. O lado bom é que a Internet e as redes
sociais, que tantas vezes são acusadas de servirem apenas de vitrine para
narcisismos e irrelevâncias, mostram que podem ser também um instrumento de
vigilância, de cobrança, de denúncia, etc., principalmente numa área crucial
como a do ensino.