Tanto esquerda quanto direita já fizeram tentativas de impor
ao mundo real conceitos abstratos extraídos de um silogismo filosófico
qualquer. É uma atitude que, previsivelmente, é encampada com facilidade por
intelectuais jovens com muita leitura e pouca vivência nas ruas. Você
desenvolve uma argumentação veemente numa lógica irretorquível. Quando vai
botar em prática, leva uma rasteira da Realidade. Nada mais irritante para um
filósofo do que predizer uma castástrofe e não vê-la acontecer. Ou vê-la,
dependendo do caso.
O marxismo sempre teve um lado ficção científica, no aspecto
teórico. Ele se apresentava como uma interpretação científica da realidade,
para se distinguir do socialismo utópico ou do comunismo primitivo dos índios. O Materialismo
Científico não era muito diferente da Psico-História de Hari Seldon, na
trilogia da Fundação de Asimov. Uma teoria ambiciosa, assustadoramente veraz,
com duas tintas de ingenuidade messiânica e mais quinze gotas de militarismo
introjetado. Perto da seriedade do marxismo, qualquer outra teoria da história
humana fica parecendo inventada por Robert Sheckley ou Douglas Adams.
As pessoas mais honestas, altruístas e corajosas que já
conheci estão nestes dois grupos: as pessoas religiosas e os comunistas. Dois
grupos que, em muitas circunstâncias, não se veem com bons olhos. Um erro da
esquerda é um revolucionarismo que desdenha a alegria e tudo submete a uma
moral puritana e sombria. Karel Tchápek, o autor de “A Fábrica dos Robôs”,
disse certa vez: