Um artigo de James Turner no portal O’Reilly Radar (http://oreil.ly/MSg64z)
discute a obra de William Gibson (Neuromancer principalmente) perguntando: “A
FC previu o futuro? Adivinhou, trinta
anos atrás, como seria o nosso presente?” Turner observa que Gibson errou em
muitos detalhes técnicos. Em alguns casos a realidade se desenvolveu de maneira
oposta ao que ele imaginara em seu livro, mas ele soube captar bem o Zeitgeist,
o espírito do tempo. Captou a sensação sufocante de vigilância eletrônica, da
existência de uma “matrix” (embora ele evite este termo) e de uma guerra feroz
travada nas trincheiras digitais. Gibson acertou só um pouco na evolução da
informática, diz Turner, e acertou muito mais no que previu da Distopia em nosso
futuro.
Diz ele: “O mais interessante é que Gibson errou por
completo na questão de onde estariam sendo travadas as batalhas. No universo de
Gibson, as corporações se enfrentam disputando segredos de negócios, com
‘assassinos’ informáticos altamente preparados travando elegantes batalhas
contra ‘firewalls’ meticulosamente construídos. No mundo real, os defensores
estão sendo superados numericamente, travando uma guerra desesperada em frágeis
plataformas de software contra hackers semi-instruídos que desferem descargas
cada vez mais maciça de ataques baseados na força bruta. E, ao invés de planos
tecnológicos de valor inestimável, a riqueza que essas empresas tentam proteger
são bens mundanos: números de cartão de crédito, músicas, filmes”.
Gibson nunca escondeu que quando escrevia Neuromancer seu
conhecimento de computadores era apenas superficial. Ele misturou suas leituras, intensas mas desordenadas, e jogou
tudo na página em branco. Sobre vírus, ele diz (em 1990): “Não percebi o quanto
esse conceito era esotérico na época. Presumi que todo mundo sabia a respeito,
pelo menos o pessoal de informática. Na verdade, nem todos sabiam”.