(foto: Tim Gruber)
Ser
condenado à prisão perpétua soa como um final feliz, ou pelo menos como um mal
menor, um alívio, para um sujeito que, num país como os EUA, esteve perto de
ser condenado à morte. Só que prisão perpétua não existe, visto que não existe
vida perpétua. Os que recebem esta pena são condenados, na verdade, a um
envelhecimento vagaroso, a perder de vista, dentro das paredes de uma prisão.
Imagine um sujeito de 35 anos que cometeu um crime e foi condenado à prisão
perpétua. Se tem a sorte de ir para uma prisão mediana, há uma boa
possibilidade de que ele chegue aos 85 anos. O que acontece, então?
Falei
em prisão mediana porque esse problema é mais presente nos EUA do que no
Brasil. Aqui, depois de 30 anos o cara é
solto, mesmo que tenha sido condenado a 458 anos, como acontece às vezes pela
soma das penas. Se no Brasil houvesse prisão perpétua, não duvido que a maioria
seria jogada dentro de um porão, fechavam a porta do alçapão e botavam um
arquivo morto em cima. A próxima pessoa
a ver aqueles detentos seriam os arqueólogos de 2300.
Há
aqui (http://bit.ly/QRw575) uma matéria
arrepiante de James Ridgeway sobre prisioneiros senis em cadeias
norte-americanas. O próprio jornalista tem 75 anos e diz que isto facilitou seu
acesso aos presos. A reportagem traz histórias de presos com Parkinson ou
Alzheimer, sendo cuidados pelos companheiros de cela (banho, asseio,
alimentação, etc.) porque ninguém lhes dá atenção. Outros presos idosos, ainda
capazes de se locomover sozinhos, sofrem na hora do bandejão ou do banho de
sol, porque são escorraçados pelos jovens e nunca conseguem o que precisam.
Em
1981, havia 8 mil prisioneiros com mais de 55 anos nas cadeias dos EUA. Em 2010
eram 125 mil, e em 2030 a projeção é de 400 mil. Isto se deve a uma combinação
de sentenças mais pesadas e expectativa de vida (remédios, etc.) maior.
Ridgeway argumenta que prisioneiros liberados após os 50 anos só voltam a ser
presos em 2% dos casos. Um estudo acompanhou 469 presos por crimes violentos
que foram libertados depois de ficarem velhos; nos 13 anos seguintes, apenas 18
voltaram à cadeia, e somente 1 por crime violento. Aliás, o custo de um
prisioneiro idoso é de US$ 68 mil por ano, o dobro do que custa um preso jovem.