(Laerte, foto de Rogério B. Huss)
A Terra, o nosso planeta, é vista como uma personagem
feminina em movimentos influenciados pela contracultura, o feminismo, o
misticismo, a ecologia e a preocupação com o meio ambiente. A Mãe Terra é uma
criatura viva (alguns chamam a isto “a hipótese de Gaia”), e o princípio
feminino seria o princípio básico da existência. Pode-se pensar numa situação
em que na humanidade só existam mulheres e elas consigam de algum modo se
auto-fecundar e gerar novos seres; mas não se pode pensar numa humanidade
composta apenas de homens. Biologicamente, a humanidade consiste nelas, e nós
somos acessórios necessários, por enquanto, à reprodução da espécie. (Mas que
isto não nos esmoreça, companheiros, em nosso cumprimento do dever!)
Laerte Coutinho é um dos grandes quadrinhistas brasileiros,
criador dos “Piratas do Tietê”; surgiu em revistas como Circo, Chiclete com
Banana e outras, numa geração de desenhistas que incluía Angeli, Glauco, Adão
Iturrusgarai, etc. Há dois ou três anos
começou a se vestir de mulher, e diz ele que deu mais entrevistas nos últimos
tempos do que ao longo de toda sua longa carreira de desenhista (Laerte tem 61
anos). Laerte decidiu assumir sua porção feminina e vestir-se com as mesmas
roupas que as mulheres se vestem, ir ao banheiro feminino, pedir para ser
tratado como “ela” e “a senhora”, etc.
Laerte virou gay? Foi a primeira pergunta que foi feita e a
mais irrelevante, até porque ser gay está aos poucos virando uma coisa muito
comum e muito aceita no país. Há focos de resistência, mas diminuem a cada
década. O que não é comum no país é um homem vestir-se de mulher e sair à rua –
sem ser no carnaval, no teatro, numa festa à fantasia, num filme ou em qualquer
situação onde possa ser invocado o pretexto de que era mera brincadeira ou
encenação.