(Richard Feynman)
A gente sempre imagina (os livros escolares têm grande parte
da culpa) que a humanidade está constantemente evoluindo da ignorância para o
conhecimento, da barbárie para a civilização.
Diria Augusto dos Anjos: “Ilusão trêda!”. A barbárie não desaparece com o surgimento da civilização: é
diluída por ela, assim como o leite já existente numa xícara não desaparece
quando derramamos café dentro dela. Civilização e barbárie, ignorância e
conhecimento, tudo isto continua a ser produzido sem parar. Varia apenas o
ritmo e a intensidade de cada um.
É confortável pensar que a evolução humana é uma lei da
natureza, mas as idéias confortáveis são tão perigosas quanto os paraísos
artificiais. Não duvido nada que nas próximas décadas aconteça alguma
catástrofe planetária (calma, estou virando a boca pra lá), de natureza
econômica ou ecológica, e em um simples século a gente perca tudo que aprendeu.
Como teria dito uma vez Einstein: “Não sei que armas serão usadas na Terceira
Guerra Mundial, mas na quarta serão arcos e flechas”.
Perguntaram ao físico Richard Feynman (procurem meus artigos
sobre ele no Mundo Fantasmo): Se algum cataclismo destruísse todo o nosso
conhecimento científico, mas você pudesse deixar para os homens futuros uma
simples frase, que frase seria essa?
Que informação essencial, comprimida numa pequena cápsula, permitiria
reencontrar o caminho perdido da ciência?
Feynman respondeu que um ponto de recomeço importante seria
a hipótese atômica, ou seja, o nosso conhecimento sobre a matéria de que o
Universo é feito. E ele sugeriu a frase: “Todas as coisas são feitas de átomos,
minúsculas partículas que giram em movimento perpétuo, atraindo-se umas às
outras quando estão a pequena distância, mas repelindo-se quando tentamos
apertá-las umas de encontro às outras”. Para Feynman, esta descrição contém uma
quantidade enorme de informação sobre o mundo. O fato da matéria que parece
sólida consistir em “grãos” invisíveis, separados por espaços vazios; o fato de
esses grãos manterem relações de energia entre si (atração e repulsão); o fato
de que, quando tentamos interferir no equilíbrio das partículas, essa energia
reage de maneira violenta (como quando pegamos dois ímãs e tentamos forçar suas
extremidades iguais uma de encontro à outra).