Esta série de TV está em sua
quinta temporada nos EUA. (No Brasil, passa no Canal AXN.) Já vi as duas
primeiras e estou vendo (a conta-gotas) a terceira. A vantagem de ver as séries
com atraso é não ter que esperar uma semana pelo próximo episódio; meu filho
baixa e a gente faz uma maratona de dois por noite. Breaking Bad é a história
de Walter White, um professor de química, tímido e bundão, que ao saber que
está com câncer e tem somente um ano de vida decide fabricar e vender drogas (secretamente)
para deixar um pé-de-meia para a família. O diferencial de Walter é que ele é
um químico dos mais CDF, e a metanfetamina que ele fabrica é de uma pureza
demolidora. Ele e seu “assistente”, um ex-aluno meio rebelde e meio desnorteado,
açambarcam o mercado daquela região fronteiriça com o México. onde a história
se passa.
A série se vale principalmente
de um excelente roteiro e de atores encaixadíssimos nos papéis. Cada personagem
tem uma história de vida suficientemente variada e complexa para proporcionar
reviravoltas a qualquer momento, e um dos prazeres da série é ver como tudo se
encaixa, e como certos fatos têm uma mecânica de tragédia grega – a gente
“canta a pedra” com muita antecedência e fica roendo as unhas à espera da sucessão
de catástrofes em que se transforma a vida de Walter (o ótimo ator Bryan
Cranston) em sua tentativa de levar uma vida dupla de pai de família
respeitável e chefão do tráfico nas horas vagas. O título, acho, significa algo
como “Chutando o pau da barraca e virando um caba ruim”.
Há uma leve tintura de David
Lynch em certas imagens inesperadas, surrealistas, que depois são justificadas
dentro da narrativa. A cidade onde tudo se passa, Albuquerque (Novo México), é
uma espécie de Campina Grande, com tamanho suficiente para o sujeito ter uma
vida dupla sem ser descoberto, mas não tão grande que ele não esbarre com
conhecidos nas horas mais impróprias. Walter é um Jekyll-e-Hyde, um obsessivo
capaz de destruir vidas humanas para garantir o futuro da esposa, do filho com
leve paralisia cerebral e do bebê que nasce durante essa confusão toda. Os chefões
são personagens fascinantes, cheios de
complexidade e de nuances, servidos por excelentes diálogos e uma narrativa de
cenas curtas, secas, que vão direto no osso. É o mundo da droga fabricada e
vendida por caras que jamais a usariam, porque não são malucos. “Eles são
adultos, fazem isso por livre arbítrio”, diz um fabricante. Esta crítica ao
nosso conceito ingênuo de liberdade é um dos aspectos mais desconfortáveis
dessa história brutal, cômica, cínica, emotiva, cruel. Um dos melhores “filmes”
sobre drogas.