sábado, 29 de setembro de 2012

2989) Antologias de FC (29.9.2012)






As antologias de contos tiveram um papel muito importante na FC ao longo de décadas.  As antologias dos “melhores” do ano, clicando uma polaróide do que foi aquele ano (o exemplo mais presente são as antologias de Gardner Dozois); as antologias de contos inéditos, revelando novas histórias e novos autores; as antologias de clássicos obscuros ou esquecidos; as antologias temáticas de todos os tipos. É justamente essa variedade de abordagens que dá a importância coletiva das antologias, porque cada uma delas faz um recorte diferente, seja na seleção do que é inédito, seja na pesquisa e escolha do que já existe.



Roger Elwood é um editor norte-americano que no espaço de poucos anos, entre as décadas de 1960-1970, lançou dezenas de antologias originais, tendo a certa altura açambarcado para si um quarto do mercado de contos nos EUA.  Fala-se que editou cerca de 80 ao todo, e surgiu até o termo “elwoodização” para descrever a saturação de um mercado editorial específico. A Encyclopedia of SF observa que ele é um cristão devoto, sendo também autor de várias obras evangélicas e inspiracionais. Não me lembro de ter alguma antologia de Elwood na minha coleção e não sei avaliar seu valor, mas o personagem mereceria uma tese. Pode ter sido uma tentativa de hubbardização.



Um dos tipos de antologias que mais aprecio é o modelo personalíssimo criado por Judith Merrill em sua série The Year’s Best S-F (é esta a grafia). Consta que foram doze volumes, dos quais tenho seis. JM fazia um balanço que ia muito além do mercado de revistas de FC (1956-1968). O volume de 1963 traz um poema de Conrad Aiken, poema em prosa de John dos Passos (um fragmento de Midcentury, de 1961), o conto (de estréia!) do físico Leo Szilard, cartum de Jules Feiffer, versos de Paul Dehn ilustrados por Edward Gorey, um conto de Lawrence Durrell – e, claro, histórias de autores como Fritz Leiber, Fredric Brown, James Blish, John Wyndham, Anne McCaffrey e Cordwainer Smith.


O que isto prova?  Para mim, prova que também é possível ter um modelo de antologia que mesmo privilegiando o conto e mesmo privilegiando a FC não vê problema em usar outros ingredientes. Não é uma antologia de contos, é uma antologia de idéias. A antologia capta e herda um certo espírito eclético (inclusive na apresentação gráfica) das revistas de FC. Uma antologia organizada pela presença de idéias-FC – e aí cabe ao organizador saber o que cada peça está fazendo ali. Uma antologia pode também ter algo de revista, ter algo de almanaque, misturar poemas, cartuns, não-ficção, fotografias, contos mainstream. Desde que tudo isso funcione dentro de um conceito geral.