Fico com a
pulga atrás da orelha quando leio na imprensa generalizações do tipo “os
argentinos são egocêntricos”, “os baianos são preguiçosos”, “os políticos são
desonestos”, “os sertanejos são simplórios”, “os cientistas são insensíveis”… Pobre
imprensa: tão sufocada pelos prazos curtos, tão obrigada a traficar clichês. Todo
clichê parece fazer sentido, porque (é triste, mas é verdade) o alcance mental
de muita gente só vai até aí. Para quem raciocina desse jeito, todas as
categorias acima são homogêneas, compartilham as mesmas características. Meus
camaradas, nenhuma categoria no mundo é homogênea. Talvez os átomos de um
elemento químico sejam todos iguais, mas mesmo nesse caso eu não boto a mão no
fogo.
O websaite
da emissora árabe Al-Jazeera publicou um artigo da antropóloga Sarah Kendzior (http://aje.me/UaDEcd)
criticando o uso indiscriminado da expressão “o mundo islâmico”, um conceito
que envolve numerosos países e centenas de milhões de pessoas. Algo de uma complexidade que dá tontura só de
pensar, e ainda assim lemos todo dia expressões como “as mulheres não têm
liberdade no mundo islâmico…”. Dizer isso
é deixar de lado incontáveis diferenças políticas, econômicas e históricas entre
todos esses países que cultivam a mesma religião.
Diz ela: “Após
a destruição da embaixada dos EUA em Benghazi e as mortes de quatro
norte-americanos, aconteceu um protesto contra as pessoas que os mataram.
Cidadãos líbios ergueram cartazes em inglês dizendo ‘Benghazi é contra o
terrorismo’, e “Desculpem, americanos, estas não são ações do nosso Islã e do
Profeta’. (…) Mas explicações assim não deviam ser necessárias. Não se deveria
imaginar que pessoas comuns compartilham as idéias de criminosos violentos que
pertencem à mesma fé”.