(foto: Roberto Kusterle)
Estar virado na direção
certa no momento certo. A visão é limitada, é uma escolha. Se tivéssemos visão em 360 graus à nossa
volta, como talvez alguma medusa aquática jupiteriana seja capaz de ter, então
os pontos de referência seriam outros. Não sendo assim, como provavelmente não
será, é preciso optar a cada segundo de uma história, como uma galinha nervosa
que quer fotografar tudo primeiro com um olho, depois com o outro. O que fazer?
Olhar a rua pela janela, ou olhar para o número que alguém disca no telefone?
Olhar pelo retrovisor para saber afinal de contas o que diabo esse maluco está
tentando fazer, ou olhar para o ônibus colado meio metro à frente, prontinho
para ser ultrapassado? “Antes mesmo de
ver, preciso decidir em que direção quero ver”. Saber o que ver em seguida.
O enquadramento, a
maneira automatizada, invisível, de escolher o que olhar. Comparar a trêmula imagem na câmara escura
da mente e a elusiva imagem na chapa de vidro. Onde foi que não vi
direito? Onde foi que vi, mas não
notei? O que vi agora confere com o que
eu, ou alguém, tinha visto antes? Esse
detalhe que parece tão típico não será igual a este outro, cultivado por aquele
outro grupo? A mente registrando e
fatiando tudo como uma guilhotina horizontal e velocíssima, tomografia
instantânea. Quem está enxergando a
curva, pensou ele, percebe claramente quando um ponto qualquer destoa dela.
Quem sabe o Mal que se
oculta no coração humano, além do Mal?
O Sombra, o grande herói pulp de Maxwell Grant, também sabe, mas o
Século da Psicologia (certamente o século 20 foi o melhor de todos para essa
ciência) abriu esse interessante território para a literatura sobre crime. O
baú de Psiquê. Tudo ver significa tudo pressentir, tudo deduzir, tudo
percorrer, tudo investigar, duvidar de tudo e em quase tudo meio que acreditar.
Tentar ver tudo por todos os ângulos, mas não se deixar enganar quando tiver
que de fato ver e decidir.