As transmissões esportivas durante os Jogos Olímpicos, com suas dezenas de esportes e de competições diferentes, mobiliza centenas de locutores e nos deleita com a espantosa variedade de tons de voz que acompanham essas transmissões, de acordo com a apoteose ou via-crucis que esteja sendo descrita.
Existe, por exemplo, o tom
“eufórico-estabanado”, aquele que o pessoal usa logo no início das competições,
quando a adrenalina está solta, a cabeça está a mil, e os locutores sentem,
como eles próprios dizem, “a História acontecendo diante dos nossos olhos”.
Nessa hora vale tudo, vale o clichê, vale o grito de guerra, vale o grito de
Tarzan. Quando o nosso time começa a massacrar o adversário, esse tom é
substituído pelo “triunfalista-tripudiante”, em que o bravo falastrão começa a
bordar firulas elogiando a ginga, a improvisação, o jeitinho brasileiro, aquele
algo mais que nós temos e que é invejado pelos nórdicos, germânicos,
orientais... Aí também vale tudo, inclusive zombar de quem está perdendo e
puxar de um baú cheio de poeira resultados de 1900-e-cocada que estão sendo
vingados agora.
As coisas não vão bem? O
diapasão muda para o “roendo-raivoso-as-unhas”, quando o cara se irrita com os
atletas, chama-os de estrelas mimadas ou de mercenários sem bandeira. Ele havia trazido meia dúzia de bordões
gozadores no bolso, e se desespera quando vê que não vai poder usá-los, porque
a vaca está partindo rumo ao brejo. Os comentaristas também intervêm, e mesmo
concedendo que muitos deles são sensatos e conhecem o assunto, nunca deixa de
haver o tom de “titubeio-dos-mal-informados”, ainda mais quando se trata de
esportes alienígenas como badminton ou luta greco-romana. Ouve-se claramente o roçagar
das folhas de papel enquanto eles consultam os press-releases e os regulamentos.