Contar
histórias no cinema é diferente de contá-las no papel, até porque no papel o
texto precisa dizer (ou deixar subentendido) tudo, e no cinema grande parte
disso fica a cargo da expressão facial e da voz dos atores, dos movimentos de
câmara, do visual, da direção de arte...
E o escritor do cinema pode se concentrar no que (para o cinema) é o
essencial da arte de contação de histórias: quem são os personagens, e o que
acontece com eles.
Emma
Coats escreve para a Pixar, uma das produtoras mais eficientes na narrativa de
cinema de animação (Toy Story, Monstros, Procurando Nemo, Wall-E, etc.).
Ela compôs uma lista de dicas sobre narrativa que são muito úteis, talvez não
para quem quer escrever um romance tipo Vidas Secas, mas para quem quer
escrever um filme como os da Pixar (e algo me diz que no Brasil tem mais gente
querendo esta segunda hipótese do que a primeira). Comentarei alguns.
Coats
diz: “A gente admira mais o esforço de um personagem do que os seus sucessos”.
Isto é a medula do espírito norte-americano na literatura, cinema, auto-ajuda,
tudo: não desista, vá em frente, não se deixe abater, não desista nunca, no fim
vai dar certo. Funciona bem para o público dos EUA, impressiona fora, mas não é
uma verdade psicológica tão universal quanto parece.
Coats
sugere um esqueleto narrativo universal: “Uma vez havia _____. Todos os dias,
_____. Um dia, _____.Por causa disto, _____.
E por causa disso, _____, Até que finalmente _____”. Aí estão as formas
básicas da narrativa simples: situação, interferência, enfrentamento das
interferências, solução – de preferência, ao invés de um retorno ao ponto
inicial, a chegada a um equilíbrio mais complexo, numa nova situação, melhorada
por tudo que aconteceu.
Diz
ela: “Defina o final da história antes de imaginar a parte do meio. É sério.
Todo final é complicado, e você deve preparar o seu desde logo.” Ao escrever um conto, sem compromisso, você
pode correr o risco de improvisar tudo enquanto escreve (eu faço isto o tempo
inteiro). Num filme de 100 milhões de dólares que vai ser visto por 100 milhões
de pessoas, não se pode correr esse risco. Tudo tem que se encaixar.