domingo, 3 de junho de 2012

2887) Uma xícara de café (3.6.2012)




Sempre que alguém me pergunta coisas positivas (“Como você se mantém tão jovem?”, “Como você consegue escrever um artigo por dia?”, etc.) dou sempre a mesma resposta: “Café”.  É bem verdade que respondo o mesmo quando me perguntam se sou viciado em alguma droga, porque de todas as drogas que já experimentei o café é a única que preciso tomar diariamente para não me transformar num bagaço de ser humano, desorientado e trêmulo.  Meio litro por dia, no mínimo; às vezes um litro inteiro.  Faz bem.  Tonifica, energiza, dá um upgrade nos neurônios e uma sacudidela no sistema neuro-vegetativo.  Com algumas ressalvas.  O café não pode ser muito forte: um “espresso” pequeno, desses que a gente toma no balcão, equivale a uma xícara grande das que faço em casa.  Para ser tomado quantitativamente, o dia inteiro, o café precisa ser um pouco diluído.  Se eu tomar 2 ou 3 espressos ao longo de uma hora, a sensação é de gastura e sobrecarga.

Tudo isto me vem à mente quando descubro, através do inestimável saite BoingBoing, um estudo (http://bit.ly/JkGKav) publicado neste mês de maio no “New England Journal of Medicine”, assinado por cinco cientistas, sendo quatro deles PhDs. (Como o leitor sabe, artigo científico é como samba-enredo de Escola, nunca tem menos de quatro autores). O artigo se intitula “Association of Coffee Drinking with Total and Cause-Specific Mortality”.  Trocado em miúdos, ele informa que foram estudados entre 1995 e 2008, nos Institutos Nacionais de Saúde (imagino que seja algo como o INSS de lá) um total de 229.119 homens e 173.141 mulheres na faixa etária de 50 a 71 anos, sendo excluídos do exame pacientes que já tivessem doenças mais graves como câncer, doenças cardíacas e derrames cerebrais.

Os pesquisadores estabeleceram critérios para avaliar riscos de mortalidade (por exemplo, pacientes mais velhos, ou que fumavam, foram classificados como de maior risco).  E descobriram uma relação inversa entre o consumo de café e a mortalidade, tanto a mortalidade por causas específicas (cardíacas, respiratórias, ferimentos e acidentes, diabetes e infecções, menos por câncer) quanto a mortalidade em geral, incluindo todas as causas.  Os cientistas concluem: “O consumo do café apresentou uma relação inversa com a mortalidade total e a mortalidade por causas específicas.  Se isto é uma relação causa-e-efeito ou apenas de ordem associacional, não pôde ser determinado pelos nossos dados”.  Com tantas más notícias que a TV vive nos dando, mostrando que tudo faz mal, não custa nada comemorar esta, não é mesmo?  Adivinha o que eu vou fazer agora.