A lei de Yog foi formulada por James D. MacDonald, e obteve
seu nome a partir de Yog-Sothoth, um dos mais terrificantes e ominosos seres do
panteão de Divindades Diabólicas criado por H. P. Lovecraft. A Lei de Yog consiste em apenas uma
premissa: “O dinheiro flui na direção do escritor”. E é de uma grande importância num contexto em que alguns editores
e agentes “espertos” faturam grana às custas de escritores inéditos e ansiosos,
para quem seria um presente do céu ver seu nome na capa de um livro de verdade
ou seu conto numa antologia. (Eu sou macaco velho, publico há 40 anos, e
garanto que essa emoção nunca se esgota.)
Existe uma expressão em inglês para a qual não temos
equivalente: “vanity press”, que seria algo como Edições Vaidade. É quando um sujeito tem tanta vontade de ser
escritor (ou melhor: de ser considerado escritor) que acaba publicando às suas
próprias custas as coisas que escreve.
Muita gente faz isso, e não há nada desonroso nessa prática. Os grandes
poetas brasileiros, por exemplo (Manuel Bandeira, Drummond, etc.), publicaram
seus primeiros livros pelas Edições Vaidade, em tiragens de 200 ou 300
exemplares que eram quase totalmente distribuídas entre parentes, amigos e
colegas de repartição. Acontece que há gente que descobre esse filão e resolve
ganhar dinheiro com ele. Talvez o melhor retrato literário desse tipo de golpe
seja o de Umberto Eco em O Pêndulo de Foucault, em que uns espertalhões
enchem o bolso de grana às custas daqueles nobres italianos doidos para posar
de literatos, que gastam tudo que têm para publicar seus volumes de poemas ou
suas crônicas de família.
Onde entra a lei de Yog?
Ela diz que isto está errado, e que a atividade editorial honesta é uma
em que o editor entra com a grana e o autor com o texto; e o dinheiro (a
percentagem previamente combinada, em geral 10% do preço de capa) flui na
direção do autor. Qualquer esquema que exija desembolso de grana por parte do
autor (diz ele) tem alguma coisa errada. Há pessoas que cobram para avaliar
originais, cobram para sugerir mudanças, cobram para levar o livro a uma
editora... Há também a figura do agente literário, que recebe uma percentagem
dos direitos do autor para representá-lo.
Como em tudo no mundo, há os bons e os maus agentes. Há agentes que
praticamente criam uma carreira profissional para um autor, e agentes que sanguessugam
seu dinheiro, fazendo promessas intermináveis que nunca são cumpridas. Quem se comporta assim está indo de encontro
à Lei de Yog, e automaticamente se candidata a uma visita noturna de
Yog-Sothoth, que o conduzirá à caverna submarina onde há choro e ranger de
dentes.